Verdades que Doem
O que fazer quando o coração está pesado?
Para onde ir quando dúvidas sombrias sondam a alma?
O que pensar quando questionado se é, para verificar se a felicidade está perto de ti?
O que demostrar quando por dentro se nega e por fora se forja a alegria falseada?
Como viver de aparências é possível quando todos já notaram que o seu sorriso é blasé
que o seu contentamento não é verdadeiro
e que o espírito de vidro se tornou?
Viver no espaço entre a incoerência e a mentira e acreditar nesta realidade distante da verdade.
Lagrimas nos olhos, medo, insegurança.
Vozes que ecoam acusando-me da inexatidão a que me submeto.
Amigos que não te querem bem.
Distanciamento. Individualismo.
Como posso carregar essa cruz, tão pesada, tão desacreditada, tão enraizada na escuridão dos maus sentimentos? Tão orgulhosamente defendida por posturas irrecuperáveis?
E as promessas? E as palavras de salvação? E a mão forte que se apoiava sobre a rocha? Onde estarão?
Abandonaram-me na imensidão do mundo cruel? Esqueceram-me no caminho largo? Me jogaram aos leões?Caluniam-me na fogueira das injúrias? Fecharam a porta da casa. Fecharam o corpo. A comunhão não existe mais.
Posso ainda pedir perdão?
E o sonhos? Deram lugar a vergonha? E as letras das belas canções? Não passam de belas canções? E a fé? Sempre foi inabalável? Não. Falsas esperanças.
Onde está você ungido? A lâmpada apaga-se e caminha a humanidade para a tormenta. Não Vê? Está mais preocupado com o dízimo.
Viver de que? Viver para que?
Quanta efemeridade. Quanta fantasia. Quanto falsos momentos de alegria. Quantas conversas que não preencheram a morada do santo. Quanta filosofia, Quanta Teologia, Quanta Orgia! Uma Sodoma e Gomorra das interpretações sacramentais e morais.
Grito mudo. Sigo cego. Corro parado para a eternidade na tristeza que, sendo a única verdade, me assombra com suas vaidades.
Se ainda me resta um pouco de orgulho tão impróprio e inadequado de ímpio pecador, não confesso verbalmente aquilo que está a luz de todos e quase ninguém sente.
Enquanto todos bebem felizes a santa ceia, enquanto riem nos teatros, encantam plateias, e estudam as teorias, e contam histórias...
morro.
E nem mesmo as palavras me salvarão da eterna solidão, do amor negado, da vida cortada, do ódio encarnado, da chama apagada, do ato indevido, da visão horrenda do mistério impreciso do questionamento necessário, que através do meu ofício contesto com palavras nada agradáveis.
Nunca sentirei-me saciado, pois a tristeza me nutre com o podre e amargo sabor do arrependimento que, antes libertador, agora definidor de uma vida sem lastro, sem perspectivas e sem esperanças.
Um futuro que me anunciaram: uma manhã de sol que viria após a noite de tormenta.
Onde está?
Palavras que o vento levou e que sua marca deixou numa alma que se humilha na busca do paraíso que parece muito distante das verdades dominicais.
Mas quem sou eu para duvidar? Nem direito a voz tenho. Fala por mim um ser que atende pelo meu nome e que roubou-me a graça da vida e trancou-me no profundo abismo dos pecadores que sorriem para a massa e choram para o íntimo. Que buscam a paz e encontram a dor. Que necessitam do próximo e encontram o individualismo. Que olham pro céu, e veem somente o céu.
Não adianta sete ave marias, nem o louvor da adoração. Perde-se o equilíbrio quando seu irmão encontra aquilo que outros jamais contemplarão.
Não se trata de carma, muito menos de destino. Se existe um Deus maior, existe um ser menor que desprovido da perfeição preferiu fazer uso do livre arbítrio sem nenhuma correção. Coitados desses que ousam dizer Não!
Entre a palavra e a realidade, entre a vida e a morte, perpasso pela história feito São Tomé para que no terceiro cantar do galo não reste a escória de ser humano que tenta dia após dia manter a vida incoerente que os homens de bem acreditam ser o ideal "Pedriniano" mais valioso que o poderoso nos deixou depois que aos céus ascendeu.
Homens de pouca fé. Virtudes destrutivas. Verdades inconvenientes. Verdades que doem.