Para Raquel
Raquel,
Não te escrevo porque sinto tua falta.
Já não somos o que fomos e já não temos o que tivemos. Dizem que o tempo ajuda e nos fortalece, mas a distância, essa maldita distância que teima em nos perseguir é inevitável, e vai matando aos poucos a nossa sintonia, mesmo que seja um sentimento verdadeiro e forte.
Mas não te escrevo porque sinto tua falta.
Todos os dias eu vejo
que ainda existe uma esperança
para além do desejo, do papel,
uma esperança nítida
de olhos nos olhos te reencontrar
depois de todo este tempo
e de ver que continuas a ser tu,
para mim um ser exemplar e perfeito
Não te escrevo porque sinto tua falta.
Para um cara como eu que escolheu e se dedicou a viver dentro de aviões, para um cara que dorme cada dia em uma cidade, acabei me acostumando com a falta de algo, e sempre é a falta de casa.
Acontece, ô Raquel, que fiz do teu colo minha casa, e em meio às escalas numa cidade ou outra eu choro baixinho, como uma criança na primeira vez que dorme na casa de um coleguinha.
Os sinais que brotam dos seus olhos aquecem mais que qualquer lareira, e a sinfonia proveniente dos teus lábios são inebriantes para seres fatalistas como eu, seres que são rocha, mas que na sua presença desejam ser fluido leve e de várias nuances. Mas somos assim, sempre agimos assim, presos até o momento crítico onde é preciso escolher entre ficar ou
Partir.
E quando teu rosto de porcelana
me aparece entre a fresta da porta a única coisa que eu quero é que ele não se quebre.
E eu só sei mexer com malditos botões!!
Raquel,
minha boneca de porcelana,
Escrevo-te porque sinto tua falta.