No seu modo de sentir

Era um modo desajeitado para tomar o café. E ainda para bastar aquele som: "Contigo en la Distancia" onde inocentemente vestia a cafeteria, por meros minutos, num bordel desolador. Lembrou-se da madrugada anterior, tão distante, - pensou sorrindo sem perceber. Tão vulgar e libidinosa e bebericou um gole de café, já frio.

Não dizia nada, não queria nada. Só queria sentir e sentir; - sentir o que? Estremeceu nessa dúvida supérflua. Sentir os tilintar dos talheres alheios de seus vizinhos? Esse barulho que soa como uma punição, e que do qual ele próprio não compreende. Sentir o aroma de flores frescas da floricultura de sua irmã... Cega? Sentir o desdém de seus amigos, perante uma opção de sonho, por ele almejado? Eu me amo. Disse confuso, abrindo a porta de seu requintado apartamento. Eu me amo tanto que tenho medo de ficar cego igual à minha irmã. Repetiu essa frase até pegar no sono. Nem fumou maconha. E dormia ainda vestido, tão sereno e absoluto. Amanhã ficara o dia inteiro na cama, apenas sentindo-se. Sentindo-se.

Duino Shackal
Enviado por Duino Shackal em 30/09/2013
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