A cinderela de preto
“Sempre chegando atrasado aos lugares”. Sentava-se de forma assustada e calma ao mesmo tempo. Folheava a mesma velha revista e revisa o horário de soslaio para não se auto justificar que da próxima vez deveria chegar mais cedo.
A enfermeira serviu-lhe uma xícara de café. Ela sorria sem animação. Fernando fora recíproco com o sorriso e voltava à atenção para as noticias já mofadas da revista. Esses seus hábitos casuais de marcar consultas médicas sem nada sentir e atrasar-se por mero luxo desvairado de se manter esquecendo-se. Princesa sem saber. Só faltava passar batom nessas suas sutilezas desagradáveis e mimadas. Mas sempre tristes e relutáveis. Caóticas. Sim, realmente, - já era um dos sintomas da tal cinderela de preto dentro de si.