Reminiscências.
Fui eu,
Fui eu quem esvaziou a lata de leite em pó de minha avó
E vem-me, incontinente, a lembrança do prazer que me causava aquela pueril aventura...
E aquela substância pastosa no céu da minha boca,
Era-me o ápice da delícia quando, já diluída, invadia a área do meu paladar...
Foi ali que aprendi que tudo que é bom, bonito e saboroso é de difícil conquista...
Fui eu sim,
Fui eu quem quebrou aquela telha, que deu goteira, pra buscar minha bola de meia,
Fui eu quem catou aquela laranja verde no pomar que tanto era vigiado pelo meu avô.
Fui eu quem pegou o último cigarro do escasso maço do meu pai,
Fui eu quem subtraiu o pão colocado pelo padeiro na janela do vizinho,
Fui eu o invisível tocador de todas às campainhas...
Fui eu sim, quem se apoderou da maçã vermelhinha do coleguinha bajulador de professora..
Fui eu quem nas madrugadas tentava sem alarde comer a rapa do mingau doce de fubá...
Talvez fui eu que precocemente costurou a bola que o Pelé chutou,
Ou quem sabe rematou o bordado da calcinha da Brigitte Bardot.
Fui eu, enfim, o meu próprio professor de “Sobrevivência na Terra”...
Fui eu quem ficou tontinho, tontinho, após tomar todo o vinho ruinzinho, guardadinho para o Natal...
Vômitos disfarçados, empurrados para baixo do tapete improvisado de jornal...
Fui eu quem pegou emprestado um pouquinho o caminhãozinho de bombeiro do meu primo...
E por instantes inesquecíveis eu o tive como meu...
Mas também fui eu quem não conseguia desprezar a menina feia na brincadeira de pera, uva ou maçã...
Eu amarrei a toalha puída nas costas, como a capa de voar do Super Homem, e voei... e tive medo da toalha não suportar o peso de minhas travessuras ...
Eu fui mais bandido que mocinho... Eu cantei para plateias imensas...
Eu dominei o reino de Iara e dos caboclos d'água... Varei noites com Ogum...
Subi morros, pisei lamas...
Contei estrelas, até umas quinze... E foi o suficiente para eu sentir a existência e presença de Deus.
Ah, fui eu mesmo, meu Deus,
Fui eu quem soltou aquele “pum” na missa das oito e passou muito tempo com dor na consciência, por ter omitido tamanho impropério no confessionário.
Fui eu que na ânsia de balançar na corda do sino da igreja o acionei bem antes da “Hora do Angelus” e assim causei espanto em fiéis e pecadores...
Por fim, meu redemoinho no cabelo é anti-horário, assim como todos “da pá virada”..
Sempre fui em tudo muito intenso, para jamais enterrar os meus sonhos,
Sonhos que vivo até hoje felizmente acordado...
Por sinal, muito bem acordado com Deus...
Fui eu,
Fui eu quem esvaziou a lata de leite em pó de minha avó
E vem-me, incontinente, a lembrança do prazer que me causava aquela pueril aventura...
E aquela substância pastosa no céu da minha boca,
Era-me o ápice da delícia quando, já diluída, invadia a área do meu paladar...
Foi ali que aprendi que tudo que é bom, bonito e saboroso é de difícil conquista...
Fui eu sim,
Fui eu quem quebrou aquela telha, que deu goteira, pra buscar minha bola de meia,
Fui eu quem catou aquela laranja verde no pomar que tanto era vigiado pelo meu avô.
Fui eu quem pegou o último cigarro do escasso maço do meu pai,
Fui eu quem subtraiu o pão colocado pelo padeiro na janela do vizinho,
Fui eu o invisível tocador de todas às campainhas...
Fui eu sim, quem se apoderou da maçã vermelhinha do coleguinha bajulador de professora..
Fui eu quem nas madrugadas tentava sem alarde comer a rapa do mingau doce de fubá...
Talvez fui eu que precocemente costurou a bola que o Pelé chutou,
Ou quem sabe rematou o bordado da calcinha da Brigitte Bardot.
Fui eu, enfim, o meu próprio professor de “Sobrevivência na Terra”...
Fui eu quem ficou tontinho, tontinho, após tomar todo o vinho ruinzinho, guardadinho para o Natal...
Vômitos disfarçados, empurrados para baixo do tapete improvisado de jornal...
Fui eu quem pegou emprestado um pouquinho o caminhãozinho de bombeiro do meu primo...
E por instantes inesquecíveis eu o tive como meu...
Mas também fui eu quem não conseguia desprezar a menina feia na brincadeira de pera, uva ou maçã...
Eu amarrei a toalha puída nas costas, como a capa de voar do Super Homem, e voei... e tive medo da toalha não suportar o peso de minhas travessuras ...
Eu fui mais bandido que mocinho... Eu cantei para plateias imensas...
Eu dominei o reino de Iara e dos caboclos d'água... Varei noites com Ogum...
Subi morros, pisei lamas...
Contei estrelas, até umas quinze... E foi o suficiente para eu sentir a existência e presença de Deus.
Ah, fui eu mesmo, meu Deus,
Fui eu quem soltou aquele “pum” na missa das oito e passou muito tempo com dor na consciência, por ter omitido tamanho impropério no confessionário.
Fui eu que na ânsia de balançar na corda do sino da igreja o acionei bem antes da “Hora do Angelus” e assim causei espanto em fiéis e pecadores...
Por fim, meu redemoinho no cabelo é anti-horário, assim como todos “da pá virada”..
Sempre fui em tudo muito intenso, para jamais enterrar os meus sonhos,
Sonhos que vivo até hoje felizmente acordado...
Por sinal, muito bem acordado com Deus...