O TESTAMENTO DE DEUS, A HERANÇA DOS HOMENS
Deus se foi
Ele volta
(Ele sempre volta)
Não se desespere demais
Existe volta
Você já deu voltas demais, não circule sobre si mesmo, seja você mesmo
Seja o que Deus te fez e quer
Seja o que você quiser, mas queira o que és
Uma vez ele disse. E disse bem!
Ele passou a vida fazendo o bem
Ele é o bem
“Meu bem querer, eu te quero bem!”
Meu bem, eu procuro sentido
Procuro um sentido com sentido para mim que eu entenda
Eu procuro um alguém que não se prenda
Ao medo, vergonha ou opinião alheia
Uma vez ele disse. E tudo foi feito
Ele disse por 365 vezes: não tenha medo!
E eu tenho tantos temores!
Na vida encontrei poucos amores de verdade
Que não me cobrassem mais do que eu dei
Eu me dei por inteiro a muitos, mas não fui feliz
Talvez porque tenha me entregado errado
Deixaram-me abandonado, distração maldita
Que deixa a vida passar como quem perdeu tempo demais para não ter mais tempo de desejar querer mais
A vida foi me tirando a vontade
Foi me tirando a força
Foi me forçando a me esquecer em qualquer esquina
O brilho do sorriso que não ri mais
Poucas coisas deveriam sim valer um riso de mim
Vou beber com este mendigo que me implora
Ele sugou meu sorriso no caminho
O merecido descanso espera de braços abertos
Mas o homem está frequentemente de braços fechados,
recolhido sobre si mesmo
O frio da noite igual de todos os dias, sem dias melhores o aperta
E o calafrio da inércia me completa: eu e o meu egoísmo
Eu e o meu-eu-omisso
E a minha consciência-ausência
Uma vez ele disse. E disse bem!
Outra vez ele bendisse:
Eu sou caminho, verdade, vida
No fundo você só precisa disso
De mim, de um caminho e de uma verdade que valha a pena ser vivida
Não busque em vão o que outros não lhe dão
Eu sou o caminho, a verdade e a vida
Eu sou a verdade do caminho da vida
Eu sou a vida verdadeira e o caminho para adquiri-la
Eu sou o caminhar, a verdade do ser, sou o viver
Eu sou o caminhante, a verdade mutante e o vivente
Eu sou o caminheiro, o verdadeiro, e o vivificador
Eu sou o caminho da verdade para a vida
Eu sou a vida do caminho verdadeiro
Eu sou a videira, a vinha e o vinhateiro
Eu sou a verdade nua e crua
Eu sou o Alfa e o Ômega
Eu sou o equilíbrio e a ordem
Eu sou a virtude e a meta
Eu sou o passado e o início
O presente e o meio
O futuro e seu fim
Eu sou o a e o z porque eu amo você
Eu sou o gesto, o teto e o prazer
E o que é a vida senão, descomplicar
Sintetizar, resumir, ligar
Conectar, relacionar
Os excessos, os extremos
Diplomacia, economia, e política?
Eu sou o tempo e o seu infinito
Eu sou o universo dos riscos
Eu sou o branco que reúne e o preto que inexiste
Eu sou o reciclador de vidas
Eu sou o médico no médico
E a luta na tua luta
Eu sou a fonte e a origem
A desembocadura do mundo
Eu sou o Extintor dos Instintos
Eu sou a esfericidade da gravidade-ímã
Antes do amanhecer ainda não é tarde
A escuridão terá seu sol, mais cedo ou mais tarde
Eu sou o tudo e a sua metade
Eu sou a margem e o detalhe de tudo
Onde houver um necessitado
Eu sou o desconhecido que ajuda
Eu sou o arremate, mas não quero que ninguém se mate
Eu sou a justiça, mas não quero que ninguém se vingue
Eu sou a verdade, mas não quero que ninguém por causa dela se destrate
Eu sou outra vida, mas ninguém se mate
Eu sou a trilha, a vontade do bem e a capacidade
Eu sou o ponto de vista de todas as vistas e paisagens
Onde houver beleza aí está a miragem
Eu sou o chuvisco das lembranças mortais
Eu sou a noite que acorda em orvalhos
E a brisa dos cantos pássaros
Eu sou o menos-ódio no sangue correndo e o mais-paciência nos olhos fechados
Eu sou a deficiência que não se atrofia em si mesma
Eu sou a paz na guerra e a guerra quando tudo está em paz
Eu sou o incômodo de quem não se satisfaz com pouco
Mas que está louco para não se ver acomodar com nada
Eu sou o que sou, sendo o que devo ser
Na intenção de nunca desejar ser outra coisa
Até que outra coisa melhor eu chegue a ser
Eu sou você
Eu sou a luz no mundo
Do mundo, com o mundo, por causa do mundo
Sou o bom pastor, mas não sou bobinho
Eu sou a porta do aprisco
Eu sou a videira verdadeira
O senhor e o servo
O mestre e o que se põe a caminho
O filho de Maria, sou de Maria e de todas as filhas de meu Pai
Eu sou o carpinteiro da casa do Pai
Na casa de meu Pai há muitas moradas
Eu sou o carpinteiro das estradas
A minha casa é de pedra, na rocha, bem construída, com base bem funda
Eu sou a pedra fundamental
A minha arca é de madeira, banhada em sangue dos vitoriosos
A minha cela é de ouro para os derrotados
Eu sou o Nazareno, o brasileiro, o americano e o negro
Eu sou o índio apanhando, e a alforria dos mascates da liberdade
Eu sou a autonomia, do cuidar dos outros, para poder cuidar de mim mesmo
Eu sou o morto ressuscitado, eu sou a cabeça
E a cabaça de água
O caldo de cana da fé que põe de pé trabalhador da minha messe
A minha prece é que em mim, todos tenham vida
E que eu tenha a todos em segurança
Quem ouvir minha súplica terá confiança
Eu pagarei a fiança do teu pecado, pecador
Eu sou a dor que salva e a dor curada
Eu sou o casco da vida calcada aos pés e humilhada
Eu sou o humilde andando a pé, não tem passagem
A minha passagem é definitiva
A minha vida eu não dei em vão
Eu sou o ser essencial porque essência de todo ser
Vinde até mim
Sim. Vinde até mim que estou nos meus
Todos os filhos do homem são eu
Vinde a mim