Plantando Pingos D´água

Minha cacimba secou mais uma vez

Os braços já não aguenta mais cavar

A última vaquinha bebeu, mas se engasgou

Morreu matando o que vivia a lhe matar

E minh`alma adormeceu pra não me ver chorar

O terreiro batido já se enfeitou de couro e ossos

Do meu gadinho que há tempo defuntou

Já não tem barragem, açude, rios ou poços

Apenas uma torrente de remoço ficou

Num assovio uma canção pra distanciar a dor

A tardinha entre tanta carcaça contemplo o que sobrou

Sob o trago da fumaça da piúba dum brejeiro

Alegra-me um relâmpago na barra quebrar

E como um sertanejo sofrido, mas guerreiro

Meu roçado em pensamento começo plantar

Com a enxada da esperança cavo o chão que tudo faz nascer

No matutar dos meus sonhos quero todo o sertão plantar

Plantarei bilhão, decilhão, vigesilhão de pingos dàguas

Pra quando eu começar a colher

Quando for no tempo da fartura

Quero todos os silos da terra encher

E a seca que a tudo consome eu possa erradicar.

E a assim, nunca mais no meu torrão ver, bicho de fome e cede morrer.

Lino-sapo

Lino Sapo
Enviado por Lino Sapo em 09/05/2013
Reeditado em 09/05/2013
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