Asas imaginárias
Paralisei quando avistei o pássaro voando entre os livros da biblioteca. Pássaro passando rápido e ao mesmo tempo tão lento, ascendendo um leve pó. Fogo. Redemoinho de folhas no ar. O som das asas contra as páginas. Um voo em minha direção. Assustei-me, não foi por mal. Foi pela fluidez com que transformava teu voo em um sarau. Viagem astral. De um mergulho pela boca da garganta, pousou no meu peito-coração. Arrancou-me de mim. Passo a ter asas nas mãos. O céu da minha boca passou a ter constelação. A partir daquele dia, eu sabia: a poesia havia me pegado, e eu pegado a poesia.