A abertura do invisível
Certa vez havia um rapaz que cultuava o seu corpo como se ele fosse eterno, ficava horas se deliciando em frente ao espelho. O seu corpo era a maior das suas bebidas, sua própria imagem era sua embriagues, apenas tinha olhos para si mesmo, raramente aos outros, já que eles não existiam.
Quando amava, não amava aquilo que existia, amava suas próprias sensações, era rígido e centrado como um mundo aplacado pela falta, quanto mais possuía, mais sua alma tornava-se vazia e menos saciada.
No fundo queria ser como os outros, pois pertencia ao mundo das aparências, sempre era tão fácil de encontrar alguém que alimentava seus sonhos, cultuava uma imagem nos olhos, como o prazer de ser visto, de ser comido pelos olhos dos outros, sem poder ser tocado em um mundo sem sentido.
Certo dia esse mesmo rapaz perdeu seus olhos sem saber, foi presenteado por uma cegueira, o mundo da visibilidade ficou escuro, era como se estivesse entrando em suas próprias trevas, em suas estranhas. No primeiro momento não conseguia entender o que lhe havia acontecido como destino, já que viver sem o mundo visível para ele era o maior dos males.
Foi quando suas lembranças começaram a brotar em sua alma, estava então tomado por um sentimento de ternura por si mesmo, ao mesmo tempo por um prazer indefinível de ter que não ver a si mesmo mais. Descobriu então como era duro ser cego em um mundo tão regido pelas formas, raros eram como os cegos que usavam as mãos para sentir o outro no escuro.
Então houve dentro de si uma nova questão nascente;
De que aquilo que construía internamente era verdadeiramente o que estava no seu íntimo, que seria preciso estar cego para apreender a ver novamente o mundo. E quando abrimos nossa mente ao invisível, uma parte de nós morre, mas morre para podermos ser outro, é que não tínhamos ainda a sensibilidade de olhar.
(Poeta das Almas )
Fernando Henrique Santos Sanches