A ÓPERA DE MORFEU
Com o ímpeto natural da infância, abandona brincadeiras e fantasias, e se levanta, atendendo ao indeclinável convite de Hipnos. Com a voz doce e terna, e os olhinhos pesados e carentes, minha parte mais pura e inocente pede-me colo, pede-me para descansar (pelo menos foi o que pude entender no desenrolar – ou seria enrolar? – das palavras). Afetuosamente recolho-o em meus braços pesados pelo labor, pelo sacrifício diário, pelo peso das horas. Logo seus encantos me envolvem magicamente e de estar exausto já não lembro; apenas sinto o conforto de sentir seu pequeno corpo contra o meu, de sentir que posso protegê-lo do mundo, da dor e do sofrimento; de sentir que nunca irei perdê-lo naquele instante eterno – como queria que eterno fosse – para o coração... Experimento um pouco de paz!
Em meio ao embalo cansado e desafinado – apenas um fraco prelúdio aos contos e cantos, ao mundo de fantasias da Ópera de Morfeu – pouco a pouco as pequenas pálpebras vão dançando em ritmo cada vez mais lento... lento... Vai mudando o andamento, vão mudando os compassos – de Vivace a Allegro; de Allegro a Moderato; depois Andante, Adagio, Largo... A cabecinha pesa, a boquinha se entreabre e revela os diastemas a decorá-la como um diadema de pérolas; os bracinhos e perninhas desabam suave e lentamente – em câmera lenta – como um Maestro a finalizar uma regência, e entre adoráveis e naturais espasmos – entre os acordes finais – o pequenino amor se entrega ao doce canto dos deuses dos sonhos em seu mundo de maravilhas, magia e diversão, a entreter-se com Fântaso. Cesso o desafinar e passo ao contemplar! Tão belo, tão pequeno, tão adorável! Pureza e inocência; delicadeza e ternura! Repouso meu olhar nas águas doces e tranqüilas do semblante sereno que inspira paz – não são águas salgadas, pois estas inspiram agitação, ou melancolia! – e vejo Marcas de Expressão dignas dos melhores recitais – Affettuoso, Cantabile, Dolce, Con amore... Quisera mantê-lo assim comigo, livre do mundo e de seus infortúnios; longe de suas Sinfonias pesadas, longe da agressividade, do conflito e da violência de um Scherzo na Eroica de Beethoven; longe de Réquiens e Stabat Mater – ou seria Pater? –; apenas a tranqüilidade e o conforto do paterno abraço!
Com adoração tomo suas mãozinhas entre as minhas e delicio-me com cada manchinha de tinta, com cada marquinha de travessura. Fito seus pezinhos encardidos e me perco imaginando cada passo no correr das horas de um dia cheio de aventuras! Vendo o veludo do rostinho, levo meus lábios a um terno beijo, e ao me aproximar de sua face, sinto o aroma daquele biscoito preferido, do leite quentinho e saboroso, e percebo que por essas coisas, tão pequenas e cotidianas, é que tanto e mais o amo! E então, com um aperto na garganta e uma ardência no nariz, copiosamente me entrego às lágrimas, salgando os pequeninos lábios. E em um abraço apertado molho seu rostinho com minha dor, com minha tristeza; com o pranto do temor, da incerteza, da insegurança. Tudo o que ele queria era dormir em meus braços, e tudo o que quero é senti-lo adormecendo em meu abraço – estamos os dois realizados neste singelo momento! Dói não vivermos juntos. Dói não poder adentrar a recamara a cada átimo para vê-lo em noturno repouso, descansando em paz! Dói não poder dormir sabendo que está logo ali, ao lado... Basta! Apenas doces combinam com crianças – o sal das lágrimas e o fel da tristeza não! Não quero mais lágrimas, não quero mais dor! Apenas quero sonhar como ele, sonhar seus sonhos, sonhar junto a ele na solidão ou ao som do meu canto! Durma em paz, meu pequeno infante! Durma em paz, meu doce acalanto!!!
Julia Lopez
Com o ímpeto natural da infância, abandona brincadeiras e fantasias, e se levanta, atendendo ao indeclinável convite de Hipnos. Com a voz doce e terna, e os olhinhos pesados e carentes, minha parte mais pura e inocente pede-me colo, pede-me para descansar (pelo menos foi o que pude entender no desenrolar – ou seria enrolar? – das palavras). Afetuosamente recolho-o em meus braços pesados pelo labor, pelo sacrifício diário, pelo peso das horas. Logo seus encantos me envolvem magicamente e de estar exausto já não lembro; apenas sinto o conforto de sentir seu pequeno corpo contra o meu, de sentir que posso protegê-lo do mundo, da dor e do sofrimento; de sentir que nunca irei perdê-lo naquele instante eterno – como queria que eterno fosse – para o coração... Experimento um pouco de paz!
Em meio ao embalo cansado e desafinado – apenas um fraco prelúdio aos contos e cantos, ao mundo de fantasias da Ópera de Morfeu – pouco a pouco as pequenas pálpebras vão dançando em ritmo cada vez mais lento... lento... Vai mudando o andamento, vão mudando os compassos – de Vivace a Allegro; de Allegro a Moderato; depois Andante, Adagio, Largo... A cabecinha pesa, a boquinha se entreabre e revela os diastemas a decorá-la como um diadema de pérolas; os bracinhos e perninhas desabam suave e lentamente – em câmera lenta – como um Maestro a finalizar uma regência, e entre adoráveis e naturais espasmos – entre os acordes finais – o pequenino amor se entrega ao doce canto dos deuses dos sonhos em seu mundo de maravilhas, magia e diversão, a entreter-se com Fântaso. Cesso o desafinar e passo ao contemplar! Tão belo, tão pequeno, tão adorável! Pureza e inocência; delicadeza e ternura! Repouso meu olhar nas águas doces e tranqüilas do semblante sereno que inspira paz – não são águas salgadas, pois estas inspiram agitação, ou melancolia! – e vejo Marcas de Expressão dignas dos melhores recitais – Affettuoso, Cantabile, Dolce, Con amore... Quisera mantê-lo assim comigo, livre do mundo e de seus infortúnios; longe de suas Sinfonias pesadas, longe da agressividade, do conflito e da violência de um Scherzo na Eroica de Beethoven; longe de Réquiens e Stabat Mater – ou seria Pater? –; apenas a tranqüilidade e o conforto do paterno abraço!
Com adoração tomo suas mãozinhas entre as minhas e delicio-me com cada manchinha de tinta, com cada marquinha de travessura. Fito seus pezinhos encardidos e me perco imaginando cada passo no correr das horas de um dia cheio de aventuras! Vendo o veludo do rostinho, levo meus lábios a um terno beijo, e ao me aproximar de sua face, sinto o aroma daquele biscoito preferido, do leite quentinho e saboroso, e percebo que por essas coisas, tão pequenas e cotidianas, é que tanto e mais o amo! E então, com um aperto na garganta e uma ardência no nariz, copiosamente me entrego às lágrimas, salgando os pequeninos lábios. E em um abraço apertado molho seu rostinho com minha dor, com minha tristeza; com o pranto do temor, da incerteza, da insegurança. Tudo o que ele queria era dormir em meus braços, e tudo o que quero é senti-lo adormecendo em meu abraço – estamos os dois realizados neste singelo momento! Dói não vivermos juntos. Dói não poder adentrar a recamara a cada átimo para vê-lo em noturno repouso, descansando em paz! Dói não poder dormir sabendo que está logo ali, ao lado... Basta! Apenas doces combinam com crianças – o sal das lágrimas e o fel da tristeza não! Não quero mais lágrimas, não quero mais dor! Apenas quero sonhar como ele, sonhar seus sonhos, sonhar junto a ele na solidão ou ao som do meu canto! Durma em paz, meu pequeno infante! Durma em paz, meu doce acalanto!!!
Julia Lopez
15/11/2012
Foto: meu filho Dimitri, de quatro anos e meio, que já não vive mais comigo.
Obs.: Prosa Poética sobre meu filho, que já não vive mais comigo (toda a dor advém disso) em decorrência da separação conjugal. O episódio realmente ocorreu no dia 14 de novembro de 2012.
Visitem meu Site do Escritor: http://www.escrevendobelasartes.com/
Foto: meu filho Dimitri, de quatro anos e meio, que já não vive mais comigo.
Obs.: Prosa Poética sobre meu filho, que já não vive mais comigo (toda a dor advém disso) em decorrência da separação conjugal. O episódio realmente ocorreu no dia 14 de novembro de 2012.
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