O desdobrar do amor.
Faz de conta que o céu é nosso e que somos os senhores do firmamento,
Que nossa nave, de prata luzente, vadeia em zigue zague impunemente a abóboda celeste, a fazer dos astros paradas e refúgios...
Faz de conta que nossas sandálias também foram aladas por Hermes,
E que por isso conseguimos explorar as fronteiras do infinito...
Faz de conta que lá existe uma flâmula imensa e branca, infestada de paz,
E que teremos que ludibriar aqueles do outro lado da linha, como nos “piques bandeiras”, para dela nos apossarmos.
Faz de conta que lá há uma cama de brumas, que aconchegue em sua maciez a dor de nossas consciências.
Faz de conta que o Universo é nosso e que habitamos o inconcebível e reinamos o inimaginável
E que podemos dar uma fugidinha até a divisa da última fronteira
E lá, imersos na quietude de um vácuo, colocar nosso amor em dia...
Entendamos que só e tão somente esse nosso amor nos capacita a esses quiméricos “faz de contas”.
Mas que eles não nos decepcione no primeiro alvorecer,
Pois que ser for sonho, que estejamos habilitados para uma desejável e infinda sesta ...
Ah, os sonhos de amor..
Nada mais são que peripécias de nossos espíritos apaixonados...
Libertos de nossos corpos, levíssimos a flutuarem pelas vias e esquinas siderais em busca daquele momento que foram separados, por infelizes escolhas...
Consequências de outras existências, das quais não podemos ser responsabilizados,
Pois que teremos outras tantas para corrigi-las.
Ah, esses “faz de contas” …
São-nos plumas a constituírem asas que nos levam a sentir o dulcíssimo paladar da liberdade...
São-nos, enfim, afagos para esse nosso imenso e desregrado amor.