Dor trancada
Há algo no jeito em que os pássaros voam em direção ao Sol. Algo no jeito em que todos se adormecem quando tal estrela falece sobre as águas incansáveis do rio - mesmo que teime em perdurar durante a melancólica noite: berço dos amantes e dos desesperados.
No jeito em que os coqueiros balançam e sussurram para o vento. Algo nas nuvens que nunca enxergamos, pois estamos sempre muito ocupados com a mesmice das cores fortes e exagerados tingidas no céu durante a aurora. Mas quem liga para as nuvens? Elas sempre derretem e viram rio. E o rio vira mar. E o mar vira sal. E há um mar na sua garganta.
Há algo também sobre como tal mar se resume à uma lágrima que escapuliu enquanto nossas mãos se destrançavam e se afastavam, indo em direção aos imãs sutis em cada pedaço de esquina.
Se eu fosse uma bússola, meu polo magnético seria teu olho esquerdo que nunca olha para o mesmo lugar que os meus.
Mas eu não precisaria ser um bússola para estar louca. Não há nexo e você está longe. Tão longe quanto os dias que foram deixados na bagagem trancada no sótão do mundo.
Na bagagem há dor.
Mas como posso voltar? Há bombas atômicas pela cozinha e os corredores são tão largos…
Estou correndo atrás dos teus passos. Sigo tua sombra. Mas não há retrato na penumbra. Não há reflexos.
Apenas o meu rosto desesperado, desnorteado. Meus dedos perfurados pela rosa dos ventos, e dos meus dedos jorraram cascatas de Nada. Há um vácuo no meu corpo, e há um mar na minha boca.
E em que sul está o meu Norte?