Santa Maria: o domingo cinzento.
Angústia pelo sofrimento alheio.
Identidade pelas mentes em desespero.
A felicidade de um domingo dissolvida nas lágrimas de famílias sem chão.
A vivacidade de quem só iniciava a vida apagada pelo fogo da irresponsabilidade.
Entes queridos viraram meras lembranças de um convívio interrompido com total dramaticidade.
E ficaram entre os dentes e boca cerrados as palavras de amor não ditas.
A cama por arrumar.
A louça para lavar.
O conteúdo daquela prova chata para estudar.
Tudo parece ser tão atrativo para quem não teve chance de se despedir do que conhecia por mundo.
Poderia ter sido eu ou quem eu amo.
Ou só desconhecidos do outro lado da cidade.
Eram vidas iniciantes pegas desprevenidas em um momento de lazer.
A música alta e a bebida gelada trocadas por gritos, pisoteios e cheiro de morte.
Um choque para qualquer ser humano capaz de sentir empatia.
As horas demoram a se passar.
Para a maioria, o choque da notícia tentará ser esquecido para que o dia não seja perdido pelo aperto no peito da dor de distantes.
Um pensar egoísta ou de autoproteção?
A emoção responde mais rápido, ultrapassando a razão.
A respiração se entrecorta novamente pelo desconforto anginoso.
O apego à religiosidade não acalma a inquietude sufocante.
Não foram apenas centenas de vidas jovens perdidas em uma pequena cidade gaúcha.
A tragédia aflorou o medo de toda uma nação pela segurança dos iniciantes da existência humana em pleno vigor.
O perecimento despertante do desespero de uns, gerou o combate à diligência de todo um país.
E para a dor de toda uma cidade, só resta a distração do tempo e o desejo sincero da cicatrização de feridas imunes dos que amam além da vida.