Feridas imunes.

Reações e emoções ignoradas.

Mente que finge ocultar sentimentos.

Corpo já transbordante dos excessos de autocontrole.

Palavras que tentam adiar o inteiro de seus sentidos.

Tudo parte da declamação do início das mágoas e do fim de idealizações.

Uma confusão onde a culpa interna é soberana.

Onde importâncias são menosprezadas.

E menosprezos são valorizados.

Entre suposições e vícios, a mudança.

Nenhum valor antigo se aderiu à imunidade.

A curiosidade necessária deu lugar ao custo exorbitante.

Como restituir um valor que se achava ter?

Não é apenas o ato de doar algo que se queira.

São as virtudes balançadas por detrás de atitudes ditas inofensivas.

E quão difícil é se enxergar pela mesma ótica, mas por lentes diferentes.

Tudo já tinha sido implantado em um lugar obscuro e foi libertado em um dia propício para ser sombrio.

O apreço da liberdade deu lugar ao degusto da dualidade entre o bem querer e o seu tempo certo de ser possuído.

É o alívio social em contraste com os olhos suplicantes de uma alma sob conflito do que seria a decência idealizada.

Seriam cobranças exageradas ou simples constatação da perdição?

É a solidão de uma completa desordem do mar de sentimentos e atitudes descompensadas.

Já há o respingo nos afetos de convivência.

O copo já transbordou e não se sabe a solução de tal bagunça.

A ajuda externa não conseguiria ser incondicional.

Mas como parar de ser vítima de algo que se é cúmplice?

A angústia sem respostas chama seu fiel parceiro, o medo.

As lembranças afundam ainda mais as feridas.

Potencializam ainda mais os erros.

Imobiliza ainda mais profundamente.

Despertando o eu mais imundo.

O fim da esperança insana.

O adeus à troca de sorrisos e cumplicidade.

A realidade escarnificante pede o retorno do autocontrole.

Mas o secreto ainda nutre um fio de expectativa delirante.

Talvez amar não seja racional.

Mas há quem ame e não se importe em respeitar a dita normalidade.

Quando há o retorno e o não à imoralidade.

As feridas que são imunes à cicatrização.

A emoção que não adormece para a razão funcionar nas obrigatoriedades do cotidiano.

Tudo um tanto errado.

E o orgulho ainda pede fingimento.

São dispersões voluntárias para tornar suportável o viver.

Até o dia em que seja possível respirar sem a frieza do sangue de feridas que não se fecham.

Angela MT Melo
Enviado por Angela MT Melo em 09/12/2012
Reeditado em 09/12/2012
Código do texto: T4027940
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