Meu caminho amarelo.
O caminho tem cor.
A cor de alegria idiopática.
A cor do descanso.
A cor da ausência de pressões cotidianas.
O caminho tem sombra.
Uma sombra gostosa que cede conforto mesmo na estase e monotonia.
Um abraço sem braços, mas de seu jeito faz efeito.
O caminho tem folhas.
Folhas idosas e neonatais. Presas e cadentes.
Todas na mistura entre passado e presente.
Ventos diferentes passam toda hora sem fazer distinção entre elas, levantando-as.
Ora suave, ora bruscamente.
Ele não tem culpa.
Só chega com o objetivo de dar frescor e seguir seu caminho, independente do que estimule.
O caminho tem o dia.
O dia revelante de estradas com curvas sinuosas e retas sem fim.
O dia claro que memorizo em detalhes para quando a noite chegar, o medo ser desmistificado.
A noite traz ausências, onde a luz é o que mais procuro.
Tento então o condicionamento de pensar que a ausência é só o adormecimento da presença.
Ela ainda dorme na minha memória.
Qualquer hora acorda.
A adaptação sussurra que pode me acompanhar se eu der chance da coragem enfrentar o meu medo crônico.
O caminho tem raízes fortes.
(De onde vem então minha insegurança?? Epifania: sem sentido.)
O caminho é por natureza solitário.
Foi feito para se percorrer só, mesmo que em companhia.
Em cada pedaço, notam-se as claras presenças constantes.
Preservo suas identidades, pois o apreço não necessita de propaganda.
A sinceridade não se confunde com lisonja.
O caminho não precisa mais de definições.
Embora delimitações ajudem um ser em processo de livramento da insegurança, o caminho em seu maior tempo é cru e sem chão.
A segurança existe só como estímulo de maior firmeza.
O caminho tem uma beleza sem explicação.
Possui a cor amarelada mutável, algo comum para a inconstância de um ser.
Amarelo é um trecho em construção.
É um sinal de atenção.
É minha cor estimada de agora.
Um amarelo Vivaldi que traz a liberdade de um vôo já conhecido no mundo imaginário de seres borboletantes.
"Tempo amarelo, tempo amarelo
Amarelo que todos os dias
Fazem da poeira
O calo do tempo, em vão
Amarelo do fosfato
Que aduba a cana de açúcar no chão
Que até a cegueira enxerga
De longe ou de perto
No claro ou na escuridão"
(Nação Zumbi)