Cena
No papel é onde me tenho, me de-tenho!
Minha essência se liberta
onde não tenho pudores, nem dores...
Mas sou capaz até de morrer de amores!
Posso tudo: ser santa ou puta?
Vítima ou algoz
que importância isso tem?
Encenar cada ato,
viver cada personagem...
Com a intensidade voraz que me consome!
E depois matá-lo, rasgá-lo
como quem rasga um poema!
Lido e re-lido muitas vezes...
Mas há que se falar...
No teatro da vida
não há perdas ou perdedores
como diria Walkíria das Mercês
nesse nível de existência
não se aceitam cobranças e nem compensações
esse farnel de coisas tão grotescas e mesquinhas
o que há é apenas o tempo,
calando tudo!
(Senhor eterno de todas as coisas)
a prece escondida na gaveta da sala
em meio às recordações e papéis do passado
papéis que vivemos...
Ou que por algum motivo,
deixamos de viver (esses são os piores)
causam angústia, dor, frustração, arrependimento...
Ou simplesmente na poeira em baixo do tapete
de nossas vidas...
(Que muitas vezes esquecemos nos de sacudir
ou será que falta nos coragem?)
Na verdade, há um tempo limite
tempo presente (este é o tempo do fazer)
há um tempo sem tempo...
De tornar se tempo,
há tempo sem futuro (talvez o mais triste...)
Há contudo, apenas o tempo de agora
em que a cena termina
e as cortinas se fecham
mediante aos aplausos da plateia.
P.S.: texto escrito em um espaço qualquer, de um momento qualquer, numa noite qualquer, para uma pessoa qualquer, de um tempo qualquer... No ano de dois mil e oito.