ORVALHO DA HISTÓRIA
 
Preso aos grilhões do passado,
Por mais que se lute, arde a chama,
Encobre o ar que se respira,
Esconde-se sob o lodo, a lama,
Das mentes corroídas, deturpadas,
Dos braços que despejam os açoites,
Sob a lâmina do alfanje ou espada,
Da alma tênue e desfigurada,
Sob o manto negro das noites.
 
Gemidos ao som da fria brisa,
Barulhos da moenda que tritura,
Bagaços despejados sobre o fogo,
Corpos retorcidos na mistura,
Engenho que no tempo se apagou,
Gemidos do vento e os lamentos,
Voz vez por outra se escutou,
Homem que o homem escravizou,
Sua alma, seus copos sonolentos.
 
Esse tempo já se foi é certo,
As marcas, porém, foram plantadas,
Na base onde se fincou a moenda,
Nos braços que apoiaram as enxadas,
Sem pernas, sem braços, só a dor,
Na memória das terras, desempenho,
No apito estridente do vapor,
No suor que o corpo derramou,
Nas dores dos negros do engenho.
 
                       Rio, 28/04/2012
                     Feitosa dos Santos