Vazios.
Meus momentos revezam-se entre Zeus e Hades,
às vezes me vejo anjo, outros, me vejo sujo.
Por vezes sinto que sou Pégasus a conduzir-te aos domínios de Medusa, outras vezes, sinto ser um inoportuno Perseu ...
Às vezes sinto ser o sol a derreter tuas asas de Ícaro, por ousares alçar o egoístico voo sem mim.
Há momentos que sinto ser o bem, noutros sou bem algum,
há vezes que me sinto ser um bom dragão a surpreender seu algoz Ogum.
Outras vezes sinto que sou Quixote vivendo seus delírios,
mas que nada, Quixote contra suas miragens, sempre se saiu bem...
É tudo tão ermo! Um silêncio intempestivo e inaceitável...
Sinto-me uma nave desgovernada na opacidade, flutuando entre o sim e o não a buscar justificativas para tão descabidos deslocamentos!
Mas, eis que “Navegar é preciso, viver não é preciso”, ainda restam os sonhos e ilusões e a eles acoplado esse insípido sofrimento.
Nos vazios ecoam as lembranças que potencializam os soluços, que mesmo ressonantes, fluidificam-se em definitivo, na imensidão do enigmático e intransponível tempo...