O quarto de Van Gogh

Naquele quarto sempre repousará a ausência,

Já lá ela estava antes que ele fosse apresentado,

Lá ela descansava de suas incansáveis labutas

Para se esconder do olhar previsível,

Muito antes que o louco começasse sua

Distribuição de choques coloridos e trêmulas verdades.

Aquele quarto assombrado por sua exatidão de energias

Oriundas de sonhos orientais (surgidos na cabeça

De formas vivas pré-abstratas nascidas em planetas inatingíveis),

Sempre esteve relampejando e gritando sua existência,

Com sua janelinha sem vontade de levar a nenhuma paisagem,

Com seus quadros que talvez sejam passagens secretas

Para outros quartos quase idênticos a ele mesmo,

Com suas cadeiras envelhecidas pela tristeza

De acompanharem os tempos sem cumprirem

Os seus desígnios naturais,

Com a mesa mais complexa de todos os tempos,

Quando se percebe sua incontrolável vontade

De fazer-se entender como coisa com sangue e vísceras,

Com o chão que segura um mundo feito de fronteiras

Que jamais tiveram a oportunidade de expulsarem

Ou reprimirem quaisquer passagens.

E, finalmente, aquela parede que solidifica

Tudo aquilo que ousa rodeá-la.

Nenhuma sombra poderia acompanhar este universo,

Pois ele tem tudo aquilo que lhe basta e lhe falta suficientemente.

N.d.a.: Inspirado na tela “O quarto em Arles” de Vincent Van Gogh

22/03/2012

EDUARDO NEGS CASTRO
Enviado por EDUARDO NEGS CASTRO em 23/03/2012
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