O enterro dos vermes
Uma aflição contínua
Estado deprimente
Ser do ser, criatura
Da entranha cor estranha
Indefinida e seca, lábios
Rachados, inferno
Impessoal distante
Por entre pistas ando
Na faixa do meio
Estico-me, a madrugada
Chega num gole de
Cerveja quente
O arroto desconcertante
Trás de volta o grande
Império das vaidades
À tona, estreito-me
Por entre brechas e frestas,
Na festa do dia sagrado
Caio com um copo
De sangue na boca,
A mesma que te beija
E fala palavras doces,
Transformando-me
Num escravo,
Escrivão das Atenas
Por onde rasteja
Empertigado, estirado
Nos tetos da cozinha,
Na lama podre, aqui
Jaz um cadáver
De um rei tirano,
Aqui a fede a esgoto
Os restos da alquimia
Dos vagabundos
Churrasqueiros de latas de lixo,
Corpo suado, melado
Com porra quente Florisbela
Insensata, dores de vinho,
Aqui no reino dos delinqüentes
A cabeça é uma bussola
Quebrada, apontando
Para o leste, a estrada
Estreita na parte
Da encruzilhada, por
Entre os dedos corre
Veias, um arrogo de loucura
Poe fim no sofrimento
Com um tiro de 12 na cabeça
Esticado na areia está,
Nas terras das vaidade
Lunáticos se estreitam,
No concerto programado
Para o enterro há
Tempos encomendado
Por um general viciado
Em heroína para variar choveu,
Nos seus galões arranhões de unhas
E dentes das almas perdidas
Enterradas no seu jardim,
À noite elas vêm à tona,
Com sua gravata
É encontrado enforcado
No banheiro, havia uma
Frase no espelho escrita
A dedo com tinta vermelha,
Provocando inspirações
Desconcertantes. Na gaiola
Assovia uma prostituta vaidosa
Sem filhos e já de idade,
As celulites são profundas
Como a carne encravadas
Nas unhas das testemunhas
Do dia em que me ajoelhei
E pedi perdão por ser gente
E querer respirar,
Sem inspiração fico por
Entre as grades da prisão
Atiro-me, germino no
Esterco de merda
Onde nascem cogumelos
Dos mais variados, o chá da cinco
Mostra o fim do arco-íris
Sem pote de ouro, apenas
Um delírio, deixo-te estirada, caída na rua
Da miséria, escrava, filha de escrava,
Com pá cravo o peito
No mesmo instante a sepultura
Abro, e nela o enterro o maldito
Sem réquiem, sem salva de tiros,
Mochila nas costas pego
A estrada infinita, nela insisto,
Caminho na faixa amarela,
Nos pontos das curvas
Situo-me no meio, a espera
De uma carona, talvez oferecida
Por um motorista embriagado,
Transformado, transtornos
Mentais, nas mãos
Calos de uma vida tediosa.
Solos de guitarra
Psicodélica me atira aos
Sonhos, durmo tarde inteira
À noite me olho no espelho
Envergonho-me de ver
Tua face depravada
Impressa no vidro
Meu reflexo vermelho,
Então me solto nas
Frases depressivas
De um louco que escreveu
Um livro, é tão forte
Ao mesmo tempo enfadonho
Viver. Sinto-me excluído
Por pisar a faixa amarela
Por andar sem destino,
Por trilhos de ferro
Que não me levam a lugar
Algum, só sinto que é o
Meu destino, vezes
Girassóis me cercam
Aliviando as dores
E os dissabores de uma
Vida que ensinaram
Que teriam que vencer,
Pergunto-te o que é vencer?
Se consegue responder
Pergunto-te: Pra que vencer?
Far-te-á imortal? A imortalidade
Deveria ser riscada dos
Dicionários é coisa
Para otário. O sonho
De dominar o mundo
Te domínio, vive agora
Escravo da utopia
Humano-insensatista.
Ouço palmas, e daí?
O palhaço também
É aplaudido. O que te
Colocou no topo
Da pirâmide alimentar.
Ei vocês de um planeta
Que ainda não foi descoberto.
Somos mutantes do macaco
Ao palhaço, um dia à tarde
Nascemos cheio de pelos
Com caninos afiados, na manha seguinte
Tínhamos narizes vermelho e cara pintada.
Fomos heróis de uma guerra
Infinita, heróis não! Sobreviventes.
Autor Irineu Magalhães