Memórias de um cafetão

Numa ponte extensa

A água que corre embaixo

É barrenta, se vê

Canoeiros empertigados

Pescadores de amores

Lançando a sua rede para

O mundo, nela vem toda

Sorte de fêmeas, ele

Escolhe pelo sabor

Da boca, beija uma a uma.

Uma vida de princesa

O pobre homem lhes

Oferece, na testa carrega

Rugas profundas de um matador

De aluguel arrependido,

A sua boca beija e pelo

Pescoço e peitos escorrem

Saliva, a sua mão desliza

Para baixo do umbigo

O velho homem não tem

Mais ereção, a canoa corre

A deriva, batendo em remansos

Seguindo redemoinhos, girando

Pro fundo do rio, no ponto

Mais profundo a princesa

Escancarada na canoa deita

Desejando ser penetrada,

Enquanto o ex-matador

lança sua ancora numa

Árvore á beira do barranco,

O seu pescoço no laço

Enfia, se joga no vazio.

Acabaram-se todas as coisas

Para um tirano imundo

Que era dono do mundo

Com mãos cheias de sangue.

A puta deprimente se excita

Com o balançar do cadáver

ardentemente, deseja uma

Necrofilia dupla.

Autor Irineu Magalhães

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