Boa viagem!


     Eu não posso ficar aqui à margem da vida, sentado nos insensíveis trilhos, a nutrir os nefastos efeitos de uma desilusão. O trem da vida está passando... E não se atrasa...
     Tenho que me permitir chegar à outras estações e testemunhar o passageiro embarque e desembarque dos viajores. Tenho que olhar pela janela de meu vagão e maravilhar-me agradecido com o show da vida, que me é gratuito. Ver passarem os homens, os rios, estrelas, nuvens de algodão, árvores, animais, as casinhas de pinturas já gris, com casais de velhinhos na janela, os varais cheios de roupas coloridas tremulando feito bandeirolas.
     Mas, tenho que entender que sou eu quem está passando e não, como quando criança, pensar que as paisagens que passam por mim. Chega de ilusões!
     Fiz sim, tortas viagens pelos trilhos da conveniência, fora de hora, com passageiros errados e errantes, mas a ninguém foi dado o direito de julgar a outrem, então, à princípio, estamos desculpados! Partamos para outras paragens, há muito ainda a ser visto e feito!
     Porém, assumo que preciso encarar com mais razão essa travessia, sonhar somente nos sonos. Preciso tornar esse percurso menos dorido, torná-lo uma odisseia de bons momentos, acompanhado dos que realmente me amam.
     Não posso ficar aqui parado, parados somos alvos perfeitos e fáceis para as tormentas. Não posso estacionar numa gare, e perder o espetáculo de Deus me sorrindo com tantas coisas estupendas. Eu tenho que vê-las e no mínimo curti-las.
     Tenho que enriquecer minhas lembranças com coisas tangíveis e renunciar à minha soberba, tenho que viajar em busca da paz, para o meu desassossegado coração.
     Qual é o preço da passagem? Apenas um perdão!
     Da próxima vez, já perdoado, espero estar habilitado a ouvir do alto-falante da estação um sonoro e sincero: “Boa Viagem!”.