Nascido em 30 de novembro
Ontem completei trinta e quatro primaveras
(Também é aniversário de nascimento da Angélica e de falecimento do Oscar Wilde).
Talvez tenha sido o 30 de novembro que mais me passou indiferente
e o que menos desejei qualquer espécie de comemoração.
Não que nos outros eu tivesse me sentido mais alegre, mais festeiro, mais brilhoso.
Não mesmo. Houveram muitos outros em que me senti bem pior, bem mais próximo da vontade de for(ç)ca, de (im)potência, de (d)e(x)sistência..
Só que este ano percebi com maior nitidez a insignificância trituradora do tempo.
Só que este ano admiti a impossibilidade de frear a continuidade que sempre conduz a algum tipo de destruição.
Só que este ano ousei encarar a crua crueldade das crateras criadas por mim ao longo das crises e dos crimes que cometi por cravar –me cravos nojentos e tatuar-me cânceres contemporâneos.
Trinta e quatro primaveras.
Tenho a mulher que amo e que me mima com delicadezas e não mais necessárias juras de amor.
Tenho certa experiência de vida que me possibilita evitar diversos tombos cometidos no passado.
Tenho uma família que jamais me negou o afeto que, inexistente, justificaria o errático verme que por vezes sou.
Tenho uma filha linda pré-adolescente que não se parece em nada comigo em termos de rabugice, sociopatia e medos diversos.
Tenho certo talento para as mesmas criatividades com as quais devo ter já nascido.
Mas ainda assim estou insatisfeito.
Ou melhor, insatisfação não é bem a palavra.
Continuo inquieto, mesmo que ainda mantenha a minha peculiar preguiça para as praticidades.
Continuo inadequado, ainda que esteja bem mais tolerante aos formatos sociais. Continuo discípulo das mesmíssimas derrotas que foram insuficientes para o aprendizado.
Trinta e quatro primaveras que me afetam como verões de calores terríveis.
Verões de pobres distantes dos ares condicionados e que recém puderam comprar um miserável ventilador que apenas os cospe de volta os ares pestilentos que lhe foram de encontro às hélices.
Verões de vilas construídas em buracos bem próximos ao nível do inferno.
Verões de sedes insaciáveis por líquidos conhecidos.
Verões de trabalhadores braçais escravizados dentro da lei.
Verões de desertos, desastres, desgastes, detalhes gigantes (como a fome, a falta de ar, a indiferença, a doença).
Trinta e quatro primaveras que me afetam como invernos onde a vida é impossível.
Invernos siberianos onde mesmo os ursos polares sentem saudade de outros tempos.
Invernos com mendigos morrendo, ininterruptamente, distantes dos vinhos e lareiras dos que podem dedicarem-se ao frio com entusiasmo.
Invernos de criaturas tropicais forçosamente arremessadas para cima de um iceberg gigantesco.
Trinta e quatro primaveras que me negam o outono, minha estação preferida.
01/12/2011