Hoje parei para me ouvir.  E adentrando às minhas profundidades, percebi as marcas, dos açoites por toda minha alma, golpes do destino, do amor que não deu certo, das más línguas. E alí enternecida, de olhar intrínseco sobre os destroços de mim, em cada cantos dos meus eus. Encontro o meu coração com marcas profundas, pela dor contundente que sofrera. Nervos à flor da pele, estruturas abaladas, resqúícios de sague, que fora tirado de mim, as marcas dos espancamentos, os hematomas, ainda violáceos. Pensei: O que a vida tem contra mim? A amo tanto é coisa do destino? Não sei. De todas as formas apanhei. Fui quebrada, tantas vezes, Acertaram-me em cheio, o meu peito fora atingido e minha alma tombou combalida. Olhei as ruas desérticas, onde outrora fora palco das minhas brincadeiras de criança. O silêncio calou fundo em meu peito e me fez parar para ouvir os ruidos que o tempo levou... E levou para tão distante e para sempre, mas que às vezes se tornam  latentes em meu  imo... E em estado alfa, ouço vozes, gritos, ruídos das reuniões em família. Vozes dos meus pais, irmãs, filhos e sobrinhos ainda crianças... Saudades...  Saudades sem fim... Àquelas vozes infantis, deixaram um vazio  profundo... Elas se tornaram adultas e não povoaram mais o meu mundo. E os meus pais partiram paara sempre... Ao me silenciar ainda mais, sinto  o toque leve do vento a me acaricar. Trazendo consigo a fragrãncia daqueles eternos momentos. Sinto o cheiro de flores diversas, espalhadas pelo quintal... Das roupas dos meus pais, guardadas, com cheiro de naftalina... De patioli, uma planta cheirosa que tinha lá pra quelas bandas do sertão, (o nome deve ser outro, talvez patchouli)Banho com lágrimas, as ruas da minha infância, entro no quarto da minha alma e deito-me em seu refúgio, onde tantas vezes me silencio, para melhor poder me ouvir, me sondar e me sentir. Mergulho nesse reduto intocável, onde apenas Deus visita, onde ouço as batidas do meu coração. Abraço-me silente... E adormeço então por minutos, dentro de mim. E como que num sonho encantado,  jardins se abrem em flores, cachoeiras, deslizam sobre as pedras, a chuvas cai de mansinho, ouço o som das folhas ao vento, o clarinar dos passarinhos... Me dou conta então, de que ainda há um mundo lindo e encantado  dentro e fora de mim. Como se nada tivesse sido tocado. Grata à Deus, por isso, ele me deu uma essência boa, lìmpida e pura e ainda que fui quebrada, mas Deus me restaurou e estou aqui. Aprendi que os obstáculos sempre nos trazem lições preciosas, que nos fazem crescer, que  nos ensinam a entender melhor a vida...

Kainha Brito
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Kainha Brito
Enviado por Kainha Brito em 21/11/2011
Reeditado em 15/12/2017
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