MULHER
E ela anda e seu vestido voa com o vento e seus pés alcançam as ondas e os seus olhos sabem o mar e o amor. Não é Iracema. Não é virgem e não tem lábios de mel.
Mas.
É poesia e seu corpo de palavras encanta os aventureiros de além do Atlântico. O dorso, como África indomável, os cabelos e o gênio das Américas.
Sussurra o vento e ondulam as ondas no seu querer.
Não Iracema, mas é Bruna, Marcela, Joana, Fernanda e Maria. É Teresa, Raquel, Gláucia e Fabiana.
É ela. E anda com leveza e graciosidade. O seu corpo é já o poema perfeito. Os trovadores e seresteiros e românticos cantaram e cantam. Os dedos, a pele, a boca, o ventre e os seios. E trovas, baladas, sonetos, sextilhas e versos brancos e livres caminham e desenham idéias de amor sobre suas pernas.
Ah! É ela! E nos campos, longe dos ruídos do asfalto, o pastor, também, se enamora. E dentro da catedral, o poeta em conflito evoca o tempo quando os claros olhos de Carolina, Cristina, Amélia, Evelina incitam o desejo.
Ela anda e o vestido é uma vela perdida de uma nau qualquer. Uma vela que balança e se agita e agita os homens dentro e fora do tempo. Momento.
Dispersão.
E o poeta concreto vê algumas palavras: útero, fêmea, calor... Escreve, no entanto, a palavra MULHER.
E das torres das aldeias e dos prédios das cidades e nas ruas e nas estradas ouve-se um sino. É o som de todos os tempos. É um sussurrar de encanto. É ela que passa e tudo muda. É ela que olha e tudo para. É ela!