Ilustração de Henrique Secundino.


    ANGÚSTIAS DE AGOSTO

     Aproximava-se a primavera!
      As flores da pitangueira não se
desabrochavam por falta de umidade:
o clima era de quase-deserto!
      Meu coração andava cheio de agosto!
      Agosto com seus dias enfumaçados,
suas manhãs secas e suas tardes vermelhas...
      Sempre são assim as tardes de agosto:
um paredão estranhamente nebuloso
coloca-se entre meus olhos irritados
e o sol que se precipita sobre
a linha mal definida do horizonte.
      
       Até as noites de agosto são de poucas
estrelas e pouco sereno.

       Remexi minha memória e senti vir à tona
algumas lembranças deprimentes de antigos
"agostos"!
       Era como se ainda estivessem quentes
as cinzas radioativas de Hiroschima e
Nagasaki! Como se todas as águas do
Oceano Pacífico ainda estivessem balançando
violentamente em consequência da grande
erupção de Krakatoa! Como se o trágico fim
de Getúlio Vargas e a inusitada renúncia de
Jânio Quadros fossem manchetes de hoje!
 
      Ainda cochorros loucos, casamentos
infelizes, árvores desfolhadas, relva cinzenta,
solo ressequido e escassez de água nas
torneiras da vida!
       Escancaravam-se as portas para o
desânimo total!...
       Bombeiros em luta desesperada contra
os incêndios criminosos!...
      
       Diante daquele quadro, tentei sonhar com
a primavera...
       Ah!... Enfim, as chuvas tão desejadas!
       O verde e as flores! Flores do campo,
do cerrado...
       Muitas flores e muitos amores!
       Amores perfumados pelas rosas, jasmins,
lírios... Amores coloridos como as gerberas!
      
       E essa primavera não seria minha:
seria nossa!

       Mas até quando poderemos esperar pela
chegada da primavera depois de cada agosto?
        Ainda merecemos tamanha generosidade
da natureza?
        Ficaremos eternamente impunes depois
de tantos fósforos "riscados", motosserras
acionadas, agrotóxicos, aditivos químicos
e chaminés?...
        E os resíduos e dejetos que diariamente
lançamos contra nossos rios indefesos?
       
        Se continuarmos nesta direção, aonde
chegaremos?
        Como sustentar nossos sonhos?

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        Ah, te digo meu amigo: / a culpa não é do mês...
        Não bastassem tais mazelas,
        o "11 de setembro se fez!
        Tantos mortos e feridos!
       Quanta desumanidade! / Tudo pela ambição,
       egoismo, poder e vaidade!
       Resta-nos pedir a Deus / que nos dê sua
       proteção, / que o mundo conjugue bondade,
       e no amor e caridade
       sejamos uma única nação!

                   Maria de Fátima Delfina de Moraes.
      
                  
Obrigado, poetisa! Realmente, a lembrança
       do "11 de setembro" destaca-se como extensão
       de nossas angústias!
                                                     Henrique Secundino.

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