" ABRO A GAVETA DE UM VELHO ARMÁRIO "
Abro a gaveta de um velho armário.
Lá no fundo ressoa uma saudade plena
de encantamento do que vi e reencontrei
ao tocá-la. Foi com um suspiro profundo
que me estremeceu, como um eco da alma
na memória entorpecida. Com ais de melancolia,
os objetos renasceram: fotos desbotadas,
manuscritos de cartas que ninguém se lembra delas,
só eu que estremeço ao constatar que coisas
esquecidas, renascem nas expectativas de outrora.
Lembrei-me dos equívocos, que jamais viriam à tona,
não fosse o abrir da gaveta de móvel antigo.
Recordo o passado descartado que retorna
reacendendo a vida dos objetos na gaveta.
É a polifonia da imaginação que o impulso de tocar
reencontra as metáforas do meu viver.
Quando toquei os manuscritos, renunciei à lógica.
Um devaneio nasce, e como sonhar acordado,
despedaçam-se as verdades nas quais vivi
e me levavam a entender o transitório
como ponto de partida e fonte de novas ilusões:
um suposto racional que se transforma face
ao irracional dos anseios. Ao ver e tocar
os velhos objetos, percebo que algo sonhou
em mim, enchendo-me de forças imaginantes,
poderosas e imortais.