"TUBARÕES MARTELO "
Dentro de seus olhos
boiavam peixes dourados.
Dela, para mim,
só tubarões martelos boiavam
e devoravam os longos negros cílios.
Por pudor demagógico ela sonegava
o frescor dos prados, enquanto
os montes de seus seios fartos
murmuravam em esplendor
de vida que me deslumbrava,
com a ansiedade da mão sem pudor,
a revesar um pensamento nas fossas
rotundas. Eu escorria ao léu
na correnteza do rio, arrebatado
ao fulgor da paixão irrefletida, dedilhada
em incorpórea fantasia. Olhei-a
e encontrei a flor, a música no ar, as luzes
tão ao alcance no peito, junto à águas
fugidias deste amor perfeito.
Estava exangue, acorrentado nos botões
fechados do desejo, por isso,segui meu rio
mariodeandradinamente. Só sabia que iria
amá-la para sempre, mesmo que em flor
murchasse.