Hamadria

Pela janela, avisto a árvore.

Próxima, quase desnuda.

Exceto por uma folha módica e hesitante.

Dança à ventania, contra sua vontade.

Trêmula, lúrida...

E mediante as adversidades permanece rija.

Quer porque quer sobrelevá-las, impávida.

Cobiça unicamente a quietude no refúgio.

Sem ninguém incomodar.

Ela sabe que para tudo há uma hora exata.

Sabe que em algum instante, cedo ou tarde,

Esta chegará: de mansinho, sem aviso prévio.

Percurso inevitável do ciclo orgânico.

Mas lhe toma importância o presente.

A conquista dial.

Ao futuro, dá-se um jeito.

Sempre se dá!

Cada qual com seu quinhão.

Angústia à toa, por quê?

A vida necessita correr macia,

Malgrado óbices e escoriações.

É o aprendizado realmente profícuo.

Lá fora continua a folha, peciolada.

Aguerrida às intempéries.

Desaparecendo sob a bruma crástina...

Mário Neto
Enviado por Mário Neto em 27/07/2011
Reeditado em 29/08/2011
Código do texto: T3121458
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