Noite longa vida curta
Enquanto a cidade dormia fugíamos, corríamos e a cidade desmoronava as nossas costas, rumávamos para o norte, os edifícios encurtavam o dia, fugíamos para o deserto, a guerra nos perseguia, da areia escaldante a noite fria, as estrelas penduradas por cordões dourados víamos, a lua ria, brincava na areia fria. Vem, no Oasis perto tem um lugar secreto, embaixo duma palmeira tem uma esteira, vem a esteira está quente só pra gente. Junto à água tem o mar negro, aqui o dia e noite se encontram, dia vira noite, noite madrugada, vem não precisamos de lamparina temos vaga-lumes como guias.
Do outro lado tem um azul, bem, vamos lá, entre aqueles coqueiros tem um barquinho escondido, um barquinho de dois remos e uma branca vela pro vento assoprar, as ondas grandes e pequenas fazem sombras variadas, cobertores d’água fria e quente, transparentes, azuis verdes algas que liberam os seus sucos e a água tinge. Do outro lado onde é sempre noite, onde as noites são longas e as vidas encurtam - bem - ainda se fosse apenas uma noite, só uma noite, e se a noite fosse longa, a vida poderia ser curta.
De longe dá pra ver, vento assopra vela Depressa! Veja tem um ninho com teto e tudo, teto multicor, azul-embranquecido, negro-dourado, os guardiões celestes nos vigiam. Bem o alimento está pronto, deita, esparrama os teus cabelos na cama vamo-nos alimentar. Bem - aqui viveremos e dos nossos mundos de outro tempo esqueceremos. Bem - amor - bem.
Autor: Irineu Magalhães
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