Em branco

Gosto de escrever o que não tenho que falar,

Não tenho que medir e não ter que explicar

Pois vem que o sentir não precisa ser sentido

Somente acordar mesmo estando adormecido.

Palavras vem e vão e o que precisa ser escrito

Na página em branco é não ficar tudo apagado

E gosto do rascunho na folha a dizer

Meu pensar mesmo estando às vezes sem saber,

Saber do sentimento a pairar sobre um pranto

Outrora esquecido, outro tanto evaporado

Em névoa derradeira ao longe se esvair

Um pouco ofuscando, outro tanto se partir

Em dois em sendo um tão dissipado

No tempo a passar qual grito não ouvido

Apenas um sussurro ao longe a romper

O silêncio que, calado, só faz ensurdecer

Então num apelo tão pouco comovido

Escrevo minha vida neste verso remexido

Em frio texto ao futuro eternizar

Embora, como ela, só palavras a vagar...