Outono
Tenho estado muito no jardim ultimamente. Minha velhinha não gosta que eu volte muito depois do entardecer. Mas isso é jeito que se fale! É que minha esposa tem 82 anos, mas como é espevitada! Já eu não. Sou um moleque de 75 anos e prefiro o jardim às novelas intermináveis.
Às vezes, quando aparo as flores-da-noite, viajo no tempo e me recordo de tantas aventuras que vivi. Meus netos olham-me incrédulos, pensando de onde o vovô tira tanta imaginação. Mal sabem o que vivi e o que viverão! Tudo bem, deixe que pensem que sou apenas um velhinho criativo e que a vovó é espevitada.
Eu parei de cozinhar. Andei fazendo umas asneiras como por fogo no microondas, deixei lá uma pipoca de bacon pra comer escondido e quando chegaram todos eu já havia cochilado por quase uma hora. Mas gosto de colher rosas no jardim e levar café da manhã para o meu amor. Às vezes esqueço das rosas e até do café, então fico admirando ela dormindo, pensando o que viera fazer no quarto.
Eu que nunca havia plantado rosas até meus 60 anos, criei coragem para encarar essa grande responsabilidade. Hoje em dia os espinhos machucam um pouco mais. Aos poucos vou convencendo minha família que os espinhos não fazem mal como eles pensam. Um dia entenderão.
Pena eu não ter conseguido saltar de para quedas, mas no futuro, não me faltará oportunidade.