Tempo de fartura

Estou pensando em colheita...

Penso no que plantar, preparo o canto da terra, acomodo a

semente, rego, espio, faço a vigília.

Chego, num súbito momento, a me distrair;

de propósito,

só para deixar que a mãe natureza faça a maior parte...

Aproxima-se o dia de colher...

Que sorte se for boa plantadora!

Colherei por certo flores, sabores, amores...

Tudo nasce deste plantio, tudo depende dele.

O ato de plantar, de escolher a semente certa, ”a minha semente”e

vislumbrá-la na sua máxima essência

é um processo amoroso, demasiado difícil e moroso.

Não se pode antecipar sua florada.

A semente passa uma temporada inerte, sucumbida pela terra... Chego a duvidar de a sua capacidade de emergir. Sinto-a por vezes morta.

O Sol, a água ( lamento) não foram capazes de devolvê-la metamorfoseada para o lado de cima...

Depois dos devaneios da espera, da quase desesperança, o brotinho miúdo explode, sai do seu casulo, quebra sua casca... Ganha mundo e cresce...

Eu plantadora, agora confiante, recuperada do constrangimento do ceticismo, sorrio aliviada.

Agora posso colher.

Valéria Escobar

24/10/08