As coisas que não existem
Ensinou-me Manoel de Barros uma coisa que eu já sabia e não sabia que sabia “As coisas que não existem são mais bonitas” (Livro das ignorâncias).
No meu mundo, o que não existe me salva da loucura do existente,
do existir,
do palpável.
A dor, a alegria, o alívio e a agonia dentro do meu não mundo, pairam.
E a fantasia cicatriza os cortes ferinos,
os golpes soturnos
e deixa o meu mundo cavalgar em paz para um lugar que já não sei, porque já foi.
O que não existe é o meu refúgio, é o meu porto.
É preciso ficar louca no inexistente,
no fantástico,
no etéreo,
no insólito,
no que não há
para existir de verdade.
Fugir no irreal para tocar na realidade,
na carne,
no corpo.
O que seria das minhas verdades sem os interstícios das inverdades.