Criatura impaciente

Criatura impaciente esta, que quer da vida tudo

e de tudo muito

e deste muito, agora.

Criatura impaciente que não para pra respirar a vida com doçura e calma ceifa.

Que aspira vorazmente, como quem diz: “o ar é todo meu e dele me refestelo, sem prazer, mas com poder”.

Criatura impaciente,

que não faz uma pausa para ver no outro apenas e tão somente o seu semelhante, companheiro de planeta, de existência...

O outro é, sob jugo do seu olhar, nada mais que um adversário,

uma matriz com os mesmos atributos e potência,

capaz de, a qualquer instante demovê-lo do poder.

Criatura impaciente,

na sua pressa de vida, subvida é o que possui.

Sua louca euforia de sugar o mundo como sorrateiro ladrão, o impede de exercer o maior dos poderes.

O poder de ouvir o silêncio da noite, a cantiga do vento, o grunhir das pedras dançando sobre as águas.

Ouvir o mistério, a verdade, o sorriso, a lágrima, o pulsar, o compasso do coração...

a vida que expia a cada respirar

e que torna o existir excitante e assustadoramente belo.

Criatura, busque.

Valéria Escobar

Algum sábado de 2003