Despertar

Doeu forte em mim, latejou uma vontade de escrever,

espremer as palavras,

expulsar em gemidos de dor os sentimentos, as vozes, os barulhos.

Inquietantes palavras querem saltar,

criar asas,

aliviar-se da dor,

ficar leves depois de doidas na máxima angústia.

O que me dói também me inspira.

Quis outrora histórias que me fizessem cócegas.

Pensei ser mais leve passar os dias, esquecida da dor.

Mas, estranho e louco é o viver,

Já que na dor aprendi a crescer.

Crescendo, estou para um dia talvez poder voltar a ser criança.

Se para voltar a brincar, acaso precise de doses de dor,

vou me embriagar de vez,

pois cócegas, manjares, brisas suaves fizeram-me dormir e agora preciso de um trago para me despertar

e só assim,

na dor gostosa e gemida

poder adormecer de novo como criança e sonhar com o essencial,

nada menos que o paraíso.

Dezembro, 2005.

Valéria Escobar