CONSELHO DE FILHO
Outro dia, meu filho tomado de todo o frescor e espontaneidade própria da sua meninice disse de supetão... “ Mamãe, você bem que poderia arranjar um marido ou namorado do seu tamanho e da sua idade. Daria certo e você não iria se separar nunca mais.”
Fiquei pensando, entre riso e espanto naquele conselho. Isto é, seríssimo conselho, pois foi este o tom da conversa.
Qual a dimensão do olhar de uma criança de seis anos? O que entendia de carências e amores adultos? E onde estaria o seu complexo edipiano diante de tão desprendido desejo.
A alma de uma criança voa sem fronteiras, não liga em parar nos sinais, não lê os letreiros, não vê obstáculos, apenas voa.
A madureza deste gesto inusitado me faz voar também um bocadinho, com asas tímidas, vôo raso, quase rasteiro.
Que menino é este que não me quer presa em sua jaula dourada de amor possessivo?
Esta vida é mesmo para ser brindada, comemorada, pois só janelas abertas, fios brilhantes de luz se abrem ao meu derredor.
A desatenção tem sido o meu velho algoz, mas o chamamento de um filho atento é, por certo, meu grande aliado...
“ ...Olha, o céu está translúcido, o Sol te sorri, o vento te acaricia. Tudo é convite e sedução. Jogue-se neste prazer, a chave da corrente está aqui. Liberte-se, solte os braços, ria o quanto quiser, não olhe para o porão fechado...”
Joguei a chave fora.
Ser liberta por uma criança em tenra idade é mesmo recado direto de Deus.
Valéria Escobar
19/08/08