CAPITANEA NAU

Será isto o infinito revelado?

Será nesta hora o tempo perdido?

Será esta a angustia sentida?

Será assim a aflição eterna?

Oh quanta beleza esconde o momento

Tantas vezes vivido, tantas vezes falado

Haverá outro tampo, haverá outra hora

Onde esconde o presente o tempo porvir?

Na alma calada ha um rio corrente

No olhar perdido ha um sol poente

Num gesto tão brusco ha tanta ternura

No toque sutil ha promessa que dura

Mil vozes cantaram mil ecos soaram

Altivez e candura mesclaram a fala

Odores de amores constantes baladas

Finais e revezes lamurias embalaram

Será que nos versos contidos gemidos

Agruras procuras de sentido efêmero

Processos contínuos de buscas perenes

Derivadas de impulsos profundos serenos

O soar de hinos, cantigas misturas

Produzidas por corações alegres

Trazidas pelos ventos que balançam as folhas

Folhas que brotam sem serem regadas

Possível será compreender o poeta

Que embora sofrendo semeia a alegria

Provinda do fundo da alma incontida

Passando por cima do furor mudo

Continuo escrevendo contando lembranças

Da década perdida, da era inocente

Embalados por sonhos não realizados

Entrincheirados na alma como heróis de guerra

O que veio a ser mais um sol poente

Tornou-se o começo como o sol nascente

Fundou-se de bases todas reluzentes

Coroou-se de crinas resplandecentes

Na pena voraz que devora o papel

Seguidas por vozes que cultuam o céu

Apoiadas em pés presos como réus

Trás palavras belas, doces como o mel

Vem da inspiração toda a competência

Desenrolar versos com tal coerência

Que embora alheia a toda dissidência

Permanece fiel á cristal transparência

Notabilizada pela congruência

Dando alfinetadas em toda reverência

Exigindo de vós tamanha paciência

Imprime sua marca em notória imponência

Vem debater comigo, voz da eloqüência

Externar as causas com jurisprudência

Combater com fatos toda sapiência

Expor a altivez de toda negligencia

Navegando agora no terreno da insânia

Contornando noites de insônia

Aportando a nau capitania

Pra fazer despojos, nova coletânea.

Embora a certeza de um novo dia

Apesar de o concreto rodear a altura

Além de o abstrato permanecer incógnito

A realidade se mantém suprema e imperceptível

Possível é, mas quem o sabe?

Quem pode interpretar sensores?

Radares de cães farejadores.

Embutidos na alma do poeta

Alencarino
Enviado por Alencarino em 25/02/2011
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