Flores Brancas
Flores Brancas
Todos os dias, durante o ano inteiro, passo por aquela estrada e vejo uma árvore: seca, nua e só, erguida no pasto, a contrastar com a grama verdejante ao redor. Parece-me desalentada.
Todos os dias, durante a primavera, enquanto tudo à sua volta floresce, passando por lá, eu a vejo: seca, nua e só.
Todos os dias de verão, quando passo por essa estrada, olho, e ela ainda está lá, na mesma atitude: nem ufana, nem contrita, esperando...
Todos os dias de outono, enquanto o vento sopra no ar os aromas das floradas generosas, dos frutos a caminho, ela está lá: seca, nua e só, com os braços desnudos, elevados para o céu, parecendo agradecer, simplesmente, por ali estar.
Mal o inverno se aproxima, à tardinha, de minha janela, vejo sempre uma mulher debruçada no portão, meditando a espiar o céu. E, no fundo azul, surge um risco branco, ininteligível, na horizontal, que vem se aproximando lentamente, cruzando o céu, como chumaços de algodão carregados pelo vento.
Quando o risco chega mais perto, surpreendentemente, vejo que é um bando de garças; uma após outra, em fileira ordenada; vindas da banda do lago, passam voejando, serenas e silenciosas, por sobre o olhar da mulher que medita e seguem, buscando um lar para pernoitarem. Isto é à tardinha, antes da noite cair.
E, de manhã, bem cedo, quando passo pela estrada, olho em direção, e vejo que a árvore seca, nua e só, encontra-se, agora, esplendorosa, com flores brancas, repleta palmo a palmo. Como essas flores brancas, têm asas e bicos, e ali vêm apenas para pernoitar, mal o sol desponta, confabulam em suas linguagens de penas e vão saindo de par em par.Voam, tão brancas, tão solenes, riscando o azul, por sobre o olhar da mulher que, também está no portão, meditando, a aguardar o passeio das garças em retorno.