SEQUESTREI A NOITE
Tomei de assalto a noite e a sequestrei,
como um marginal inconformado.
Não haveria acerto se amanhecesse o dia.
E o preço a pagar não seria pequeno.
Durante milênios ela ficara famosa como
rainha, deusa maior...origem.
Estava agora encurralada entre espasmos de luz.
Sem tempo suficiente para eternizar os encantos
e perenizar as fraquezas.
Da necessária vida, bastava o cintilar distante
das estrelas e o perfume da flor dama, que deveria
ter aprendido a sobreviver como notívaga planta.
De marginal confesso, ouvindo suas lamúrias,
tornei-me um súdito complascente.
Senti que ela estava cansada de nascer e morrer.
Falou pra mim, em tom angustiado, que não via assim
tanta inconsequência em meu ato. E que...no fundo,
ansiava por esse sequestro.
Duvidei. Parecia expressar-se sem firmeza.
Parecia estar esperando o momento certo para
se livrar do meu jugo.
Ela fez o jogo certo. Com seu encanto e poesia,
minuto a minuto foi me aliciando.
Até que surgiu o dia...
Não sei por quanto tempo ela vai nascer e morrer.
Perdi o resgate.
Ela perdeu, de vez, o seu reino.