SEQUESTREI A NOITE

Tomei de assalto a noite e a sequestrei,

como um marginal inconformado.

Não haveria acerto se amanhecesse o dia.

E o preço a pagar não seria pequeno.

Durante milênios ela ficara famosa como

rainha, deusa maior...origem.

Estava agora encurralada entre espasmos de luz.

Sem tempo suficiente para eternizar os encantos

e perenizar as fraquezas.

Da necessária vida, bastava o cintilar distante

das estrelas e o perfume da flor dama, que deveria

ter aprendido a sobreviver como notívaga planta.

De marginal confesso, ouvindo suas lamúrias,

tornei-me um súdito complascente.

Senti que ela estava cansada de nascer e morrer.

Falou pra mim, em tom angustiado, que não via assim

tanta inconsequência em meu ato. E que...no fundo,

ansiava por esse sequestro.

Duvidei. Parecia expressar-se sem firmeza.

Parecia estar esperando o momento certo para

se livrar do meu jugo.

Ela fez o jogo certo. Com seu encanto e poesia,

minuto a minuto foi me aliciando.

Até que surgiu o dia...

Não sei por quanto tempo ela vai nascer e morrer.

Perdi o resgate.

Ela perdeu, de vez, o seu reino.

EDSON PAULUCCI
Enviado por EDSON PAULUCCI em 04/11/2010
Código do texto: T2597332
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