MENSAGEM EMOTIVA EM JUSTIFICATIVA DE UM VOTO AUSENTE
estes dias andei a pensar e você a discordar. não discordo de nenhuma discórdia, só não concordo com o falso argumento, e o erro crasso que fere a flor do lácio. desconstruir a linguagem é coisa de genialidade, de guimarães rosa, por exemplo, quem desconstrói sabe antes como se constrói, desconstrói, não descorda, isto dói... ah, lá vou eu a falar ventricularmente (sim, esta palavra não existia), pensar e existir não é tão reto como o tramou o tal do descartes, acho que o inglês chegou mais perto de saber estas coisas de coração e razão.
não voto, meu amor, isto é fato mas não é à toa. lembra-se quando eu era militante atuante convicto, quase um sectário, começou lá, em 82, ainda meio criança, sem saber quem era quem, mas já à esquerda, fazendo campanha para a oposição, anos duros, quem sabe nem acabaram e já estamos a comemorar. tive participação ativa nas diretas, em 84, mas a primeira eleição em que fui consciente em torno de alguém foi em 85, em disputa o cargo de prefeito de são paulo, fazíamos caravanas no interior para apoiar ao suplicy, porém meus conterrâneos elegeram o jânio. não fizemos aliança com fernando, o príncipe que depois foi supremo manadante, mandou tanto que até um segundo mandato comprou. na eleição seguinte, em 86, eu me empenhei na candidatura a deputado federal de um advogado ligado à igreja – eu que me distanciara dela – chamado plínio de arruda sampaio, conhece? com a proibição de propaganda na boca de urna, sugeri que usássemos uma camisa branca com uma estrela vermelha. a estrela não vingou, mas fomos todos de branco, e entendi que às vezes não dizer, não fazer, é uma forma mais intensa de se gritar e agir. depois veio 88 e a realmente marcante campanha de 89, quando quase chegamos lá...
e tudo mudou depois disto. em 96, já fora da linha de frente, via constantemente lá na paulista uns caras com bandeira e adesivos, cabos eleitorais pagos... primeiro grande sinal da ruptura, onde a militância de 85? ou como em 89, em que fui fiscal de eleição e de apuração, e no turno seguinte um mesário disse-me que dava o seu voto ao meu candidato devido a esta postura, esta luta... em 89 víamos o povo nas ruas, e o adversário, o fernandinho do pó, ganhou, e dizíamos, se o voto fosse facultativo só votaria quem tem consciência, e nós teríamos vencido. agora estimulamos o voto obrigatório, temos o nosso próprio curral, fazemos alianças com que sempre esteve no podre poder.
democracia é isto, meu amor? teremos segundo turno porque os eleitores da marina, uma antiga companheira, saíram de casa para votar. e se fosse ela contra qualquer um dos dois candidatos que sobraram, ela venceria. ah, mas a regra é esta. como toda regra, só é justa para a minoria que a cria. em 90 houve segundo turno para governador de são paulo, maluf contra fleury... eu numa turma num churrasco e fomos deixando o dia passar, teríamos de ir anular nossos votos, ou alguém aí votaria num desses dois? acabamos não indo, e descobri que tenho maior autonomia sobre meu voto. voto em quem eu quiser, quando eu quiser, senão, não voto. as conseqüências disto? quem sabe reler o saramago, ensaio sobre a lucidez, não seja uma referência maior que qualquer coisa que eu possa dizer.
amor, amor, doce paixão, sou eu, assim passional, piegas, isto por vezes me torna alocromático, jamais anencéfalo, penso, imagino, sinto, exprimo, dói mais eu sigo, só, porque pensar é uma atividade solitária, uma escolha, como aquela que definiu o marxista marx, sobre o sistema, podemos escolher ser produtivos ou morrer de fome, podemos escolher não pensar e morrer de solidão, mesmo perto de tudo. é o que me faz mais longe de todos, vivo meu mundo, degusto seus sabores, pinto arco-íris, invento amores, livre ninguém é, mas finjo, em meu mundo que o sou, meu mundo pensado, inventado, todo ele feito por amor a você. beijos e saudades.