A PRIMAVERA TINHA ACABADO DE CHEGAR
Eram seis da manhã.
Abri a janela esperando nascer
um sol de ouro sobre um azul de céu.
Assim era o que meu espírito dessa hora
queria ver.
Desarmado. Acordado de noite só.
Mas bem dormido.
E no entanto, eu vi um cinza camuflando
o astro-rei. Vi o céu chorando muitas
lágrimas doces de chuva.
Isso era lindo também, mesmo sem cor.
E vi o riso das flores, a festa dos pássaros,
o trotoar das borboletas.
Até a rã, amoitada, coitada, sem lua,
vaiava o sol e dançava frevo na poça d'água.
A sinfonia da primavera começou
quando abri a janela.
Então, empolgado com a alegria
da hora e a Natureza em canto,
improvisando uma batuta,
regi aquela orquestra instrumental de Deus.
E sorria, e chorava e gesticulava tanto,
que nem ridículo me sentia.
Mas feliz, por ter aberto a janela
num dia de chuva. O sol fugiu, mas
a primavera tinha acabado de chegar.
Eu nem sabia. Mas entendi. E vivi.
Um grande momento de felicidade.