DESCOBRI DEUS
E o vi assim meio parrudo,
baixa estatura, cabelos grisalhos
óculos pra perto...
Longe dele, vi ninguém.
Nada de túnica nem barba branca.
De sabedoria única, vestia calça jeans
e camisa comum. Nada de grifes.
Eu diria que suas vestes eram absolutamente apócrifas.
Ora sóbrio, ora alegre, ora irado, mas na maioria
das vezes, normal.
Esse Deus que vi era justo e, com muito custo
vi também seus defeitos. Existiria, de fato, alguém perfeito?
Ao me aproximar, quis trocar palavras.
Ele, desconfiado, ficou quase mudo.
Entre sins e nãos econômicos, entendi que era de pouca prosa.
Falou-me apenas que andava triste com os seres insensíveis.
Embora não quisesse revelar muito de sí, dava para notar
seus desencantos.
Insistí que proseasse mais.
Fez-se em silêncio. Longo silêncio.
Então, como num passe de mágica, fechou a cara e abriu o bico:
- Que adianta me sondar? Não vês que luto feito um doido pra sobreviver?
Nesse instante algumas lágrimas insistiam em aparecer em seus olhos.
- Não vês que poucos se ajudam? Não vês que a humanidade ainda é desumana?
Agora as lágrimas lambuzavam seu rosto, mas prosseguiu:
- Não vês tantos escombros, restos de guerras, interesses pequenos,
amontoados de lixos, defensores de liberdades absurdas, injusta justiça, cadeias pequenas e grandes causas do amor perdidas?
Com voz embargada, completou:
- Não vês que poucos são aqueles que creem de verdade em mim?
Esse Deus que vi, chorava muito.
E chorei com ele.
Descobri que Deus também era eu.
Assim, meio parrudo, baixa estatura, cabelos grisalhos,
óculos pra perto.