JUSTIFICATIVA

a morte tem me afetado intensamente, perdi a quimera da eternidade, tudo é efêmero, fugaz, absurdo, não há o pleno que complemente, não há o sonho que instigue, não há a beleza que se mereça.

o poeta já pedia por ideologias há anos atrás. o poeta morreu de sida, a morte de sua época morte. o poeta que perdera os seus/meus ídolos por overdose, hoje os meus ídolos amigos amores morrem de tumor no intestino. eu quase morri de overdose, eu quase morri de um pólipo, eu não morri mas meu mundo está desaparecendo, eu estou desaparecendo, cada dia mais pareço um pequeno burguês entediado com o viés da vida.

o dia está branco leve único. eu estou vivo pensante único. nós estamos distantes amantes juntos. é quando o tudo não representa nada e viver é só o que nos resta, um viver arrastado e cansativo, aflitivo, fútil. eu não queria sentir por quem morre, mesmo sendo antecipada esta morte, morrer é o que justifica a vida, acho que quero justificar a minha vida, e a morte de cada um que amo cada vez mais a desmistifica, fica só a tarefa de respirar, cada vez fica mais árdua a tarefa de respirar...