De Caminhão!

Eu conto as toneladas

que levo pelas estradas,

leio a placa, diz: ”Cuidado

declive acentuado”

a curva forte e fechada,

como as da mulher amada

toco o freio

está perfeito

a vida é um risco

não tem jeito

desengato, agora é neutro.

Lembro as filhas e vejo elas,

voando desengatado

como bólido endemoniado

de caminhão na banguela.

Lá fora a luz das estrelas

das quais a muitas dei nome

pois só, com elas converso,

infalíveis companheiras

nas minhas noites insones.

Ouço o cantar da turbina

e se a noite é uma criança

a minha ainda usa trança

a minha, é linda menina!

O motor forte e pesado

um Cumins interculado

ronca macio, confortante;

e rasgando a madrugada

como se bebesse estrada

vai levando a carga adiante.

Tarde quente sem igual

Cuiabá 45 graus

o suor molha a camisa

os pneus estão sofrendo

e o motor segue gemendo

cai a noite e suaviza.

Lanchei no outro Mato Grosso,

em Sonora onde é a divisa

o motor ronca macio

sobre a ponte de Coxim

do pé de cedro e do Rio!

E assim vou seguindo avante

São Gabriel, (madrugada)

o sol rompendo a alvorada

pro lado de Campo Grande.

“O Bruto”, quer oficina

e a minha pressa termina

pois forçar não vale a pena,

e enquanto ele é consertado

meu radio de longa antena

já esta sintonizado

e ouça a “Cidade Morena”

Anoitece e ele está pronto

dormi um pouco, estou no ponto.

Mais uma noite na estrada

e se Deus seguir na frente

piso o Estado de São Paulo

e tomo o café da manhã

lá em Presidente Prudente.

Depois eu viro pro Sul,

pro Estado que me deu vida

pois quero ver Curitiba

que a felicidade encerra

e assim desço devagar

pra toda beleza olhar,

Paranaguá e sua serra

O motor diz na turbina

que até velha esgualepada

se ela for Paranaense

ganha da Miss Universo

e é uma gata de menina!

Descarrego em Blumenau

meu coração não me engana

quer descer, mas não tem jeito

o bixo estufa no peito

saudade de Uruguaiana

e num esforço colosso

o motor chora ao roncar

carregando em Maringa

de volta pro Mato Grosso!

Não é a “Carga Pesada”,

que a TV vende enlatada

que fala do que não existe

-e opina , isso é que é triste-

Realidade furada

e toda americanizada

que não tem nas nossas estradas.

Sou só mais um caminhoneiro

tentando ver romantismo

onde só tem reumatismo!

JJ Braga Neto
Enviado por JJ Braga Neto em 16/05/2010
Reeditado em 16/05/2010
Código do texto: T2261111