PROSEANDO COM NINGUÉM
Assim, firme como um palanque no brejo,
procurei alguém pra prosear coisas sem nexo.
Nada que implicasse em julgamento ou opinião.
Não queria falar também de coisas conhecidas.
Como amor, paixão, futebol, copa do mundo,
regimes de emagrecer...essas coisas...
Não queria falar ainda sobre vidas passadas
e muito menos, especular o céu.
Queria falar coisas descabidas, apimentadas,
fofoquices, maldizeres, coisas chulas, como
as coisas que se ouve nos salões de beleza.
Beleza!
Mas não consegui nenhuma estátua do
Carlos Drummond pra me ouvir.
Falei pelos cotovelos mas ninguém se atreveu.
Percebi que nem os poetas queriam prosa.
Então decidi falar comigo mesmo.
E como foi bom me ouvir.
Botei pra fora o meu lado melhor.
Ele estava escondido nos meus medos de ser.