Queria Voar
Havia um pássaro, não tão grande, não tão pequeno, rechonchudo e branco, muito branco. O passarinho sabia muitas coisas, falava dois idiomas, se adaptava fácil às novidades que a modernidade trazia para o seu meio ambiente, conhecia literatura e adorava música. Era um passarinho inteligente que aprendia tudo o que ensinavam em toda a sua vida. Tudo o que havia para ser absorvido em conhecimento o passarinho retinha.
Apesar de tudo isso, o passarinho não era feliz. O passarinho se sentia sufocado, se sentia triste, se sentia só. O passarinho havia se fechado à sua natureza em nome de coisas ruins pelas quais havia passado, coisas que fizeram o passarinho enxergar o inferno de perto, em nome do que seu bando achava melhor, ou para o bem do seu bando. O passarinho queria cantar, queria colocar pra fora tudo o que estava preso no peito, queria se sentir livre, precisava se sentir livre livre. Então um dia o passarinho resolveu arriscar, permitir-se a sentir o vento por entre as penas, olhar o mundo do alto, sentir o coração batendo forte, poder cantar bem alto, poder simplesmente sentir.
O passarinho escolheu a mais alta torre que pode encontrar, queria prolongar ao máximo a sensação que imaginava poder tomar conta de seu frágil corpo. O passarinho escalou e chegou ao topo, teve uma visão extensa do mundo ao seu redor e contemplou aquela beleza toda, imaginando como o seria sobrevoar cada parte do que via e ir mais longe. Quem sabe nesses voos pudesse encontrar o que te completasse.
Respirou fundo, estufou o peito fofo e emplumado, esticou as asinhas e saltou. Percebeu logo que havia algo errado. Não conseguia coordenar o movimento das asinhas e assim seu corpinho se chocava contra a parede da torre por ação contrária do vento. O passarinho fazia força, mas tudo o que sentia era dor. Chegou ao solo, coberto por ferimentos, suas brancas peninhas cobertas pelo vermelho de seu sangue. O passarinho havia aprendido tantas coisas para se adaptar, no entanto não conseguia mais fazer o que era de sua natureza, o que era comum a todos os pássaros. Simplesmente voar.