Numa rua distante de uma cidade distante em um tempo distante, a janela acolhe a imagem próxima de uma menina distante.
 
O olhar vê esquinas que o espaço não criou, formadas de solidão e esperança, de dias brancos e madrugadas violentadas, de loucura e poesia.
 
O coração bate disritmado sob seios de veludo, espera pelo cavaleiro errante montado em um cavalo branco e armado de flores e alegria; o príncipe valente vem aos seus pés depositar a espada e a paixão, necessitado da sua fúria e seu deleite, dos seus sonhos e seu gozo.
 
Brinca em seu sorriso um brilho de desafio, seus dedos macios esfacelam a rosa e afagam os espinhos; sua vontade, sua determinação, tirou-as de heroínas mitológicas; sua beleza foi composta por um Deus alegre, sua alegria, por uma Deusa embriagada.
 
Se é feliz ou não, pouco importa, enquanto houver um mundo iluminado, jardins suspensos, carruagens douradas, amantes amados, ficará ela ali enfeitando a janela da fantasia, e todos aqueles que por todos os tempos passaram por aquela rua, aprenderam a ver, através do reflexo desta menina, a imagem perdida da criança que habita dentro de si.     

 
 
LENDAS (Arrigo Barnabé)
 
 
Onde mora o sonho
E a lua é o lustre de cristal.
Tem um rei risonho que aboliu
o bem e o mal.

Pôs em seu lugar mil pássaros de cor.
Que num gorjear
Secam qualquer lágrima de dor.

Um rei popular, rei da poesia e das canções.
E seu terno olhar são dois pequenos corações.
Como fui chegar nesse incrível país.
Sei que precisava de estar um pouco só feliz.

Era uma tormenta a atormentar em vão.
Um desespero cheirando à paixão.

Quarto de espelhos que queriam me tragar.
Então qual claridade que põe-se a vazar.
De uma janela num amanhecer.
Pude ler essa lenda em você.