Pensar a felicidade já é um momento de não estar feliz.
Sorrimos, não pensamos.
Fazemos, não pensamos.
Queremos, não pensamos.
Amamos, e pensamos ser felizes.
A felicidade está na suspensão das coisas, naquilo que não há, que não é nem será. Ela é arredia, de longe espia, jamais a espiamos, digo até que a felicidade é traiçoeira, nos acomete quando a esquecemos, quando não acreditamos que exista, quando achamos que o mundo azul é invenção de tolos, quando cremos no poeta: “tristeza é senhora, desde que o mundo é mundo é assim”.
Hoje estou feliz e não encontro a razão, tudo em que penso me dilui, me diminui, aperta, arrebenta, mas estou feliz. Será loucura? Quisera fosse, mas contrário ao que dizem, a felicidade é lúcida, ela se explica, se justifica, se aplica a si mesma. Apenas ela sabe os motivos, a nós cabe senti-la.
Hoje estou feliz, neste momento estou feliz, fazendo algo feliz. Então por que escrevo? Acho que para lembrar-me de estar feliz, um registro à posteridade, ou para os dias de sombra, para as noites que não me vivem, em que possa ler e relembrar que um dia estive feliz.
Hoje estou feliz e não motivos, há você, apenas você, redundando a minha felicidade.