O AMOR DE MARIA.
O sol se põe, o dia se vai e a noite chega. Ah, a noite... tão esperada, tão desejada...
Maria sai à janela e contempla a rua que logo estará escura. Escura como sua cor e calada como sua boca. Sua boca que logo não será só sua, será também dele, assim como todo o seu corpo. E pensa nele.
Ela veste aquele vestido branco. Branco como os seus dentes. Ele gosta dele, do vestido. Gosta de seus dentes também. Diz isso quando ela lhe sorri mostrando-os.
Ajeita os cabelos duros. Duros com seus dias. Esconde-os debaixo de um lenço branco. Ele também gosta dele, do lenço.
Coloca aquele sapato negro assim como ele. Foi presente dele, o sapato.
Põe aquele perfume de forte fragrância. Forte como sua paixão . E ele gosta dele, do perfume.
Ela sai. Vai ao seu encontro. O coração palpita e enche-se de ansiedade.
Está perto. Está perto dele. Pronto! Chegou! Lá está ele no local de sempre e sempre com a mesma postura e, como sempre, usando seu boné quadriculado. Ele sorri, sorriso largo, olhos negros, gulosos. Beija-a, beijo arrepiante, lábios grossos e avantajados.
Tira-lhe as vestes com seus braços fortes e movimentos frenéticos. Desliza suas mãos ásperas por todo seu trêmulo corpo. Ela se entrega; Ela se esfrega, ela se lambuza....
Ela é feliz. Sim, ela é feliz. Vai amar até que o dia amanheça e a aurora lhe lembre que tem que voltar pro fogão, limpar o chão e fazer o café do patrão...
Mas ela não se importa. O dia irá, a noite virá e verá novamente seu amor:
O amor de Maria.